Nesta postagem é apresentada uma coleção de vinte e cinco trovas populares em formato de quadras, independentes entre si, procedentes do distrito do Elvas (Tiradentes/MG). O tema do amor é o dominante, construído de forma muito tradicional, com a simplicidade e verve características da cultura popular. São exemplares típicos da poesia popular brasileira.
Quando eu aqui cheguei
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Eu jurei, você jurou,
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Duas moças cochichou;
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Qual dos dois jurou verdade?
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uma disse para a outra:
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Eu jurei minha firmeza,
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_ fura-capa aqui chegou...
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Você jurou só falsidade...
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Olhos verdes, tristes,
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No meio desse salão,
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Olhos pretos não tem valor,
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Vou mandar fincar um prego,
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Olhos azuis são fingidos,
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Você anda namorando
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Olhos castanhos falam de amor.
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Pensando que eu sou cego.
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Olhos azuis, falsos,
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Você está rindo de mim,
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Pretos, feiticeiros,
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Vi seus dentes lumiar,
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Verdes, traiçoeiros.
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Os meus eram de ouro,
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Castanhos, verdadeiros.
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Eu ranquei para te dar.
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Beijo na testa é respeito,
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Eu queria ser abelha,
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Beijo no rosto é carinho,
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Daquela que faz o mel,
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Beijo no queixo é desejo,
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Queria fazer um ninho
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De subir mais um pouquinho.
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Na pedra do seu anel.
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Com meus olhos te vejo,
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Joguei o anel na pedra,
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Com minha boca te chamo,
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Retiniu mais de uma hora;
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Com meus lábios te beijo,
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O amor dos outros cega,
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Com meu coração te amo.
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O meu passa e vai embora.
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Nos olhos azuis o céu lá se
encontra,
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Tenho dois anéis nos dedos,
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Nos castanhos, paixão e amor,
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Um de ouro, outro de prata,
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Nos verdes, há muita alma,
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Tenho dois amores no mundo,
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Nos negros, mágoa e dor.
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Uma é branca, outra mulata.
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Gosto de azaléia,
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Joguei meu anel na água,
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Gosto de jasmim,
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Era de pedra e se afundou,
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Gosto de sua mãe,
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O amor que tu me tinhas,
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Que criou você pra mim.
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Era pouco e se acabou.
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Gosto de rosa branca,
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Se você fosse uma árvore,
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Plantei no meu jardim;
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Eu queria ser cipó,
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Gosto mais de tua mãe,
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Nascia em sua raiz,
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Que criou você pra mim.
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Nos seus galhos dava nó.
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Fui num jardim,
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Menina se tu soubesse,
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O jardim escureceu,
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Quanto eu estou te querendo,
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Dentro de uma flor,
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Eu queria te ver morta
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Você apareceu.
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E as formigas te comendo...
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Dizem que o amor é mentira,
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Eu queria ser formiga,
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Dizem que o amor é ilusão,
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Daquelas que fura o chão,
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Mas pobre daquele que vive,
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Queria furar seu peito
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Sem amor no coração.
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Para ver seu coração.
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Menina, se tu me amas,
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Com pena peguei na pena,
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Dê um jeito no olhar,
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Somente pra lhe escrever,
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Eu também sei querer bem,
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A pena caiu da mão,
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Mas não sei adivinhar.
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Com saudade de te ver.
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Ainda que seu pai não queira,
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Se eu soubesse fazer doce,
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Tua mãe não queira não,
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Melado fazia pra você,
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Eu querendo, tu querendo,
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É um docinho açucarado,
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Tudo está em nossas mãos.
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Docinho como você...
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A
folha da laranjeira,
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Está
criando perereca,
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Tua
mãe tá me criando,
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Para
ser minha boneca.
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Notas e Créditos
* Informante: Sr. Luthéro Castorino da Silva, 1998, de São João del-Rei, que as teria anotado no Elvas. Agradecemos pela gentileza da informação e a ele, desde sempre lutador em prol da preservação das tradições folclóricas oferecemos esta postagem.
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Foto: Iago C.S. Passarelli, 21/07/2013.
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