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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Quadrinhas do Elvas

Nesta postagem é apresentada uma coleção de vinte e cinco trovas populares em formato de quadras, independentes entre si, procedentes do distrito do Elvas (Tiradentes/MG). O tema do amor é o dominante, construído de forma muito tradicional, com a simplicidade e verve características da cultura popular. São exemplares típicos da poesia popular brasileira. 


Quando eu aqui cheguei
Eu jurei, você jurou,
Duas moças cochichou;
Qual dos dois jurou verdade?
uma disse para a outra:
Eu jurei minha firmeza,
_ fura-capa aqui chegou...
Você jurou só falsidade...


Olhos verdes, tristes,
No meio desse salão,
Olhos pretos não tem valor,
Vou mandar fincar um prego,
Olhos azuis são fingidos,
Você anda namorando
Olhos castanhos falam de amor.
Pensando que eu sou cego.


Olhos azuis, falsos,
Você está rindo de mim,
Pretos, feiticeiros,
Vi seus dentes lumiar,
Verdes, traiçoeiros.
Os meus eram de ouro,
Castanhos, verdadeiros.
Eu ranquei para te dar.


Beijo na testa é respeito,
Eu queria ser abelha,
Beijo no rosto é carinho,
Daquela que faz o mel,
Beijo no queixo é desejo,
Queria fazer um ninho
De subir mais um pouquinho.
Na pedra do seu anel.


Com meus olhos te vejo,
Joguei o anel na pedra,
Com minha boca te chamo,
Retiniu mais de uma hora;
Com meus lábios te beijo,
O amor dos outros cega,
Com meu coração te amo.
O meu passa e vai embora.


Nos olhos azuis o céu lá se encontra,
Tenho dois anéis nos dedos,
Nos castanhos, paixão e amor,
Um de ouro, outro de prata,
Nos verdes, há muita alma,
Tenho dois amores no mundo,
Nos negros, mágoa e dor.
Uma é branca, outra mulata.


Gosto de azaléia,
Joguei meu anel na água,
Gosto de jasmim,
Era de pedra e se afundou,
Gosto de sua mãe,
O amor que tu me tinhas,
Que criou você pra mim.
Era pouco e se acabou.


Gosto de rosa branca,
Se você fosse uma árvore,
Plantei no meu jardim;
Eu queria ser cipó,
Gosto mais de tua mãe,
Nascia em sua raiz,
Que criou você pra mim.
Nos seus galhos dava nó.


Fui num jardim,
Menina se tu soubesse, 
O jardim escureceu,
Quanto eu estou te querendo,
Dentro de uma flor,
Eu queria te ver morta
Você apareceu.
E as formigas te comendo...


Dizem que o amor é mentira,
Eu queria ser formiga,
Dizem que o amor é ilusão,
Daquelas que fura o chão,
Mas pobre daquele que vive,
Queria furar seu peito
Sem amor no coração.
Para ver seu coração.


Menina, se tu me amas,
Com pena peguei na pena,
Dê um jeito no olhar,
Somente pra lhe escrever,
Eu também sei querer bem,
A pena caiu da mão,
Mas não sei adivinhar.
Com saudade de te ver.


Ainda que seu pai não queira,
Se eu soubesse fazer doce,
Tua mãe não queira não,
Melado fazia pra você,
Eu querendo, tu querendo,
É um docinho açucarado,
Tudo está em nossas mãos.
Docinho como você...

A folha da laranjeira,
Está criando perereca,
Tua mãe tá me criando,
Para ser minha boneca.


 
A maria fumaça sobre o Rio Elvas, na divisa entre São João del-Rei e Tiradentes.

Notas e Créditos

* Informante: Sr. Luthéro Castorino da Silva, 1998, de São João del-Rei, que as teria anotado no Elvas. Agradecemos pela gentileza da informação e a ele, desde sempre lutador em prol da preservação das tradições folclóricas oferecemos esta postagem. 
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Foto: Iago C.S. Passarelli, 21/07/2013.

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