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sábado, 18 de abril de 2015

Peladas e pelados

A palavra "pelada" e seu masculino, ou ainda "péla", possibilita algumas concepções na cultura popular. 

"Péla-saco" é expressão corriqueira usada para se referir de forma desdenhosa à pessoa indesejável, chata, desagradável. "Fulano é um péla-saco!"

Já o péla-égua é um alimento à base de milho, servido quente. 

Desgraça pelada é o nome de um mito assombroso, ser das trevas, que o povo teme e respeita. 

Pinto pelado é outro espectro, demoníaco, aparição do mal, sobretudo na quaresma. 

Existe também uma doença de cães caracterizada pela queda dos pelos e enrugamento da pele. É a pelada ou peladeira. Diz-se que pode passar para humanos. Nos meios populares é tratada com uma mistura de óleo automotivo “queimado” (retirado do motor pelo uso excessivo) de mistura a uma porção de pó de enxofre. Pincela-se na área afetada, repetindo de duas a três vezes com intervalos de poucos dias. É assim que sem consulta a veterinário o povo cuida dessa doença.

Diz que o Brasil é o país do futebol. A julgar pelo resultado da última copa... não, mas o que vem ao caso agora é que no jogo de futebol informal, de regras mais ou menos flexíveis, a chamada "pelada" é que reside a popularíssima escola do esporte mais querido do país. 

A pelada não exige uniforme (não é raro jogar o time “com camisa” contra o “sem camisa”), nem chuteira (vale descalço e na roça até de botina). O campo serve de qualquer tamanho e a distância entre as traves é subjetiva. Estas aliás marcadas com dois paus fincados em geral, apenas dois chinelos e pedras nos piores campos e uma armação de bambu ou eucalipto nos melhores. Irregularidades no campo são comuns pois se improvisa nos pastos e várzeas, por vezes em terra batida levantando grande poeira ou gerando escorregões. Correm estórias engraçadas de campos com moitas, cupinzeiros e buracos de tatu.

Os jogadores não tem necessariamente time fixo e por vezes a equipe é montada na hora, escolhendo cada líder por sua vez um jogador, de praxe equilibrando-se um bom para cada lado, e da mesma forma compartilhando os ruins (chamados “pernas de pau’, “pelonha” ou "café com leite"). O par ou ímpar decidi quem escolhe primeiro e daí, perdida a oportunidade da primeira sorte que pode garantir o mais habilidoso, os demais são escolhidos um por vez, por cada lado. Assim hoje pode o jogador estar neste time, amanhã naquele e depois voltar, indiferentemente. Não implica amor à camisa. De qualquer lado se joga com garra.

Vale bola de borracha ou de couro (“bola de capota”, artesanal). Apesar do improviso e falta de condições a pelada é esporte querido e muitas vezes revela jogadores talentosos. 

Campo de pelada. Águas Gerais, Bairro Tijuco.
São João del-Rei/MG, 18/06/2017. 

Campo de pelada. Caieira, Bairro São Judas Tadeu.
São João del-Rei/MG, 04/09/2017. 

Notas e Créditos

* Texto e fotografias: Ulisses Passarelli

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