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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ditados - parte 2

A corda sempre arrebenta do lado mais fraco – numa disputa, o menos influente sempre perde.

A necessidade faz o sapo pular – o indivíduo acomodado na hora da grande necessidade começa a agir.

Antes só que mal acompanhado – é melhor estar sem companhia que junto de uma pessoa má, imprestável, falsa.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura – é pela insistência que se alcança resultados.

Amigado com fé, casado é – a união de um casal não sacramentada na igreja e não oficializada no documento se torna válida se o sentimento que os une é verdadeiro.

Beleza não põe mesa – a bela aparência não implica em eficiência no trabalho. No passado era referência à mulher bonita mas não prendada, ou seja, não preparada para servir ao marido. O ditado caiu por terra neste sentido graças à força do movimento feminista e as conquistas sociais da mulher. Variante: “Boniteza não põe mesa”.

Boi sonso é que arromba curral – o limite é avançado por aquele que aparenta ser fraco ou bobo.

Bom cabrito não berra – o inteligente mantem-se calado para não ser visto ou alvejado por perseguidores. Aconselha-se para se evitar reclamações desnecessárias.

Briga de marido e mulher, ninguém enfia a colher – em desavenças de casal ninguém deve se intrometer.

Cabeça quente, pé dormente; deito na cama, estou doente – diz-se do preguiçoso ou de quem simula dores e sofrimento para chamar a atenção sobre si ou para rogar cuidados.

Cachorro cotó não passa em pinguela – quem não é dotado de certas capacidades não deve se arriscar nas ocasiões em que elas são necessárias. Analogia: a pinguela é uma ponte muito estreita, improvisada sobre um pau. Para atravessá-la o cachorro precisa da cauda para dar equilíbrio, como uma vara na corda bamba. Cotó quer dizer sem cauda ou de rabo muito curto.

Cachorro que late não morde – aquele que muito ameaça, não faz de fato. Quem tem de fazer algo, não avisa, faz. Variante: “cão que ladra não morde”.

Cada um no seu canto chora o seu tanto – todo mundo tem seu próprio sofrimento interior, ainda que não manifestado.

Carro apertado é que canta – diante da necessidade extrema é que as atitudes são mais efetivas. Referência ao carro de bois, que quando tem muito peso em cima geme pelo atrito das peças de madeira (eixo e cocão).

Casamento só é bom para fotógrafo e padre – casamento é útil para quem tem lucro com ele.

Chumbo trocado não dói – quando se vinga, o ataque sofrido não causa tanto sentimento negativo.

Como se toca se dança – a ação deve ser de acordo com a situação específica ou contexto da ocasião.

Defunto deita na rede e manda os outros balançar – quem não faz nada ainda quer ser adulado. Alusão aos antigos enterros em rede, onde o cadáver balançava pendente pelo movimento dos carregadores.

Deus ajuda quem cedo madruga – quem acorda cedo para trabalhar recebe ajuda divina. Deus abençoa quem não é preguiçoso. Existe um ditado contrário que diz: “mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”, referindo-se que a ajuda sagrada tem mais resultado que a dedicação extremada ao trabalho.

Devagar com o andor que o santo é de barro – não se exagera numa dada situação pois há risco de se perder tudo. Referência a uma procissão, onde não se deve correr com o andor pois o risco da imagem cair e quebrar é grande.

Devagar se vai ao longe – não se deve parar de agir e lutar pela vida, ainda que lentamente, para se alcançar resultados.

Diga-me com quem tu andas que eu te direi quem tu és – nós somos comparados às nossas companhias: se boas, somos bons, se más, somos maus. Variante: “quem anda com os bons será um deles quem, anda com o ruim será pior que ele.”

Ele sabe o mato que lenha – a pessoa de quem se fala não provoca quem é mais forte ou poderoso. Diz-se de quem persegue a muitos mas não a quem enuncia a frase.

Em terra de cego, quem tem um olho é rei – onde ninguém percebe um caminho de fama ou de ganhar dinheiro, aquele que o percebe e explora, ainda que toscamente (“caolho” = de um olho só), fica rico ou famoso.

Foi tosquiar, saiu tosquiado – foi com o intuito de atacar, não conseguiu e saiu atacado. Foi prejudicar deliberadamente e saiu prejudicado. O mesmo que “foi capinar, saiu capinado”.

Galo que canta não é de briga – quem ameaça, de fato não é capaz de fazer. Tem o mesmo sentido de “cachorro que late não morde”.

Gato escaldado não cai no pote de água fria – quem já teve um motivo de queda na vida não cai de novo na mesma armadilha do destino pois já tem experiência. Variante: “gato escaldado tem medo de água fria.”

Mais vale perder um minuto na vida que a vida em um minuto – muita pressa traz riscos e não compensa os resultados.

Mais vale um cachorro amigo, que um amigo cachorro – não vale a pena ter uma amizade não sincera. É preferível o convívio com um animal de estimação.

Matar dois coelhos com uma cajadada só – alcançar um resultado duplo com uma ação única.

Muito riso é sinal de pouco siso – excesso de brincadeiras, gracejos, piadas é indicativo de pouca concentração nos afazeres, pouca responsabilidade no serviço, pequeno juízo (siso).

Mulher de bigode nem o diabo pode – mulher que apresenta pelos sobre os lábios superiores é de índole bravia, nervosa, geniosa, temperamental.

Não se meta onde não é chamado – não se envolva em questões que não lhe são pertinentes. Casos alheios podem nos afetar quando nos envolvemos.

Nem tudo que reluz é ouro – não pode confiar na beleza como indicativo de qualidade.

O apressado come cru – a pessoa acelerada alcança resultados imaturos. Não obtém os frutos completos de uma investida.

O feitiço virou contra o feiticeiro – a situação saiu às avessas do planejado, atingindo o atacante, o ofensor.

O pai rouba, os filhos comem, os netos morrem de fome – aos erros de hoje se paga pelos resultados no futuro, quando não mais se espera ser punido por causa dos deslizes.

O que vem de baixo, não me atinge – ofensas de pessoas em posição social inferior não tem o poder de atingir e prejudicar.

Papagaio come milho, periquito leva a fama – o grande comete o erro e o pequeno, mesmo inocente, leva a culpa.

Pau que nasce torto morre torto – quem traz defeitos advindos do mau ensino familiar nunca se corrigirá.  Variante: “pau que nasce torto nunca se endireita.”

Perto de quem não é certo, um olho fechado e outro aberto – nunca se deve confiar plenamente em pessoas de caráter nebuloso ou de personalidade conturbada.

Quem dá o que tem a pedir vem – quem não dá valor aos próprios bens conquistados, termina na miséria.

Quem desdenha quer comprar – quem atribui muito defeito e má qualidade a algo ou alguém é porque está na verdade interessado em adquiri-lo ou aproximar-se.

Quem fala o que não deve, escuta o que não precisa – aquele que não mede as palavras ofendendo e acusando aleatoriamente, termina por ser execrado como resposta. Variante: “quem fala o que quer, escuta o que não quer”.

Quem não tem quem por si chore, todo dia morre – o antipatizado que se torna isolado do convívio social, sempre arruma meios de chamar a atenção para se aproximar de alguém.

Quem não te conhece que te compre – quem não conhece teus defeitos que te considere como bom.

Quem pode, pode; quem não pode, sacode – que tem o poder de alcançar um resultado dele usufrui; quem, não tem, deve se conformar. Variante: “quem pode, pode; quem não pode, bate palmas.”

Quem veste ruim pano, veste duas ou três vezes no ano – quem não tem luxo, aceita o simples, sempre tem com que se valer.

Urubu na guerra é frango – no tempo da dificuldade não existe luxo: o que normalmente é de pouco valor nesta ocasião se torna valorizado.

Quando você vem com o milho, eu já estou com o fubá – eu sou mais ágil, já conheço sua intensão. Quando o oponente provoca sorrateiramente um assunto ou situação o outro já sabe o que fato ele deseja alcançar de maneira dissimulada.

Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli

** Obs.: coleta de vários informantes, em datas diversas, durante as décadas de 1990 e 2000, em São João del-Rei e Santa Cruz de Minas. Agradecimentos especiais a Cida Salles, pelo auxílio na coleta. 

*** Leia também a primeira parte desta postagem: DITADOS - parte 1 

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