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domingo, 6 de abril de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 3

Amarrar as calças – o mesmo que “apertar a correia”: preparar-se para uma situação difícil, precaver-se das dificuldades iminentes.
Balofo – gordo, inchado, obeso, edemaciado.
Bater as botas – morrer.
Bater perna – andar muito, caminhar sem rumo, vagar.
Birinight – cachaça, pinga, aguardente, "caninha", "marvada", "parati", "água que passarinho não bebe".
Birosca – bar ordinário, estabelecimento comercial ruim; "buteco". 
Boca aberta – idiota, imbecil.
Buléu –  surra, sova. Dar um buléu, tomar um buléu.
Camorfa – mulher leviana, impudica, oferecida. Prostituta.
Casinha de caboclo – emboscada, armadilha, situação embaraçosa.
Catiripapo – tapa, bofete, “esfrega”.
Catita – pequena e bonita. Menina catita.
Catramba – velho, estragado, danificado, desgastado.
Cavaquista – brigão, encrenqueiro, gerador de desavenças frequentes.
Chamada – admoestação, chamar à atenção, à responsabilidade.
Chifrudo(a) – “corno”, pejorativo: pessoa traída no amor, vítima da infidelidade no relacionamento. Pode ser também um dos muitos sinônimos do diabo.
Chinfrim – desqualificado, de mau gosto.
Chumbado – bêbado, embriago. “Saiu chumbado do bar”.
Conversa pra boi dormir – conversa à toa, sem proveito, diálogo inútil.
Conversar goma – conversar com agressividade, usando de palavras ameaçadoras ou de auto-promoção.
Cor de burro fugido – cor indefinida, mistura confusa de muitas cores.
Currutela – mulher leviana, impudica, de conquista fácil. Prostituta. 
Enfiar o bico – entrometer-se, envolver-se em assunto alheio.
Erado - criado, adulto, formado, constituído. Pode contextualmente ter o sentido de velho. Boi-erado. Canário-erado.
Escarafunchar – remexer, procurar exaustivamente.
Esticar o paletó – falecer. “Fulano esticou o paletó”: morreu.
Ficar boneco – “ficar velhaco”, ficar esperto, estar prevenido contra dificuldades e perigos próximos; estar de prontidão contra complicações.
Filhote de cruz-credo – filho com os defeitos do pai. O mesmo que “filho de Deus me livre”.
Fiúza – confiança. “Ficar na fiúza de ...” : esperar providências e atitudes de alguém, sem tomar as próprias.
Gogó – garganta, faringe, “goela”. Por extensão diz-se que tem muito gogó que fala de si mesmo enaltecendo as próprias qualidades, “contador de vantagem”, “contador de marra”.
Gosto de cabo de guarda chuva – sabor indefinido, gosto desagradável, que não se sabe se doce, azedo, salgado, amargo ou agridoce.
Gosto de corrimão de rodoviária – o mesmo que “gosto de cabo de guarda chuva.”
Indaca – confusão, tumulto: “ficou discutindo, caçando indaca com os outros...” . Podem ser também resquícios no campo espiritual, carga negativa, encosto, má influência na aura: “entrou naquele casarão abandonado e saiu cheio de indaca”. Neste sentido, o mesmo que “urucubaca”, azar. 
Inhaca – fedor, catinga, mal cheiro, podridão.
Lapo-lapo – mole, flácido, sem consistência. “O angu que ela mexeu ficou um lapo-lapo!”
Mamado – bêbado. “Chegou em casa mamado”.
Manqueba – idiota.
Maquitolar – mancar, andar trôpego, coxo.
Marmelada – falcatrua, favorecimento ilícito.
Meia-jota – olhar de esgueio, observar às escondidas. “Ficou de meia-jota” : na espreita.
Mutungar – cair, desmaiar, desfalecer. “Mutungou no meio do povo” : perdeu os sentidos dentro do tumulto.
Negro-aço – pessoa albina.
Nesga – pedaço grande. “Tirou uma nesga de bolo”.
Nhaco – o mesmo que nesga. “Pegou a coxa do frango e mordeu um nhaco”.
Osso – dureza, dificuldade, peleja. “Aquilo ali é osso!”. O mesmo que “osso duro de doer”.
Pafúncio: palerma, imbecil. "Fulano é um pafúncio..."
Passa-n’água: idiota.
Passar sabão – admoestar, xingar por motivos de correção de conduta execrável.
Pastel – bobo, abestalhado.
Pataquada – idiotice, situação ridícula, palhaçada. “A reunião foi uma pataquada!”
Rabo de foguete – situação difícil, complicada. “Rabuda” (vide).
Rabo de Olho – esgueio, “olhar de banda”, espiar, olhar com o campo lateral da visão, sem focar a atenção, despistando o interesse real do olhar.
Rabuda – situação difícil. “Enfrentou uma rabuda danada!”. Em sentido pejorativo, mulher de quadris largos. Na gíria umbandista, apelido chulo das pombas-giras.
Rameira - mulher leviana, impudica. Prostituta. 
Sabonete – pessoa “escorregadia”, no sentido de ser arisco, de não se deixar prender a nada nem a ninguém. Indivíduo esquivo. “Passar um sabonete”: o mesmo que “passar sabão” (vide).
Saca-trapo – sujeito desmazelado, maltrapilho, anti-higiênico, de hábitos sociais esquivos.
Tabefe – tapa no rosto.
Tendepá – confusão, discussão, “bate-boca”, tumulto.
Tereré – doido, louco, “lelé”, biruta, maluco, desorientado. 
Torete – pedaço grande. “Cortou um torete de cana para chupar”.
Tungar – tomar de; usurpar. “Tungou minha ferramenta”
Urucubaca – azar, má sorte, praga espiritual.
Vira-bosta – pessoa imprestável, inútil, de má vontade, ruim de serviço.
Zambi-zambi – indivíduo com andar trôpego, zonzo. “Caiu da árvore e saiu zambi-zambi”.
Zanzar – andar muito, sem rumo.

O povo em burburinho conversa no adro da igreja de forma descontraída.
Procissão de São Jorge, Matriz da Imaculada Conceição.
São João del-Rei/MG, 25/04/2009.

* Texto e foto: Ulisses Passarelli

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