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terça-feira, 11 de março de 2014

Tradições sobre o lobo

Lobo-guará ou simplesmente lobo ou guará, é um mamífero canídeo, Chrysocyon brachyurus, que não corresponde ao lobo do hemisfério norte. A combinação dos dois nomes é uma junção de influências do colonizador europeu que o assimilou à espécie do velho mundo e do indígena, que denotava sua cor avermelhada.

Animal típico do cerrado sul-americano, de hábitos crepusculares e noturnos, muitas vezes é vítima de atropelamento nas rodovias e de extermínio a tiro por parte de moradores da zona rural, sob o pretexto de supostos prejuízos que causaria na avicultura. Este tipo de pressão antrópica aliada à  destruição do habitat tem levado este mamífero ao triste quadro de ameaça de extinção.

Na natureza alimenta-se de pequenas caças e frutos da lobeira (Solanum lycocarpum, solanácea).

Lobeira.  
Em São João del-Rei é corrente a superstição que um pedacinho do couro deste animal conservado junto ao corpo da pessoa é um poderoso amuleto contra vários males. E ainda: as presas (dentes caninos) tem o mesmo efeito. Preso a uma bengala ou bastão de capitão de congado, confere-lhe especial firmeza. Um patuá de couro de lobo livra da picada de cobras, notadamente se contiver sublimato corrosivo, substância que creem seja capaz de afugentar qualquer serpente.

O lobo motiva uma expressão popular, que os pais aplicam aos filhos mais crescidos quando cometem alguma besteira: “parece filho de lobo: quanto mais velho, mais bobo...”

Quanto à mitologia acerca do lobisomem é assunto para outra postagem.

Como o lobo tem as patas dianteiras (“mãos”) mais curtas, é veloz na corrida de ladeira, daí dizer-se que "lobo de morro acima ninguém pega", acontecendo o contrário nas descidas, curiosa observação do homem do campo, quando cães domésticos perseguem o lobo.

A fêmea protegendo crias é muito temida pela ferocidade. Diz o povo que o filhote do cruzamento de cachorra de casa com lobo é muito procurado pois é tido como o melhor cão de guarda, ferocíssimo. 

Nas fábulas o lobo faz o papel de bruto, sempre enganado pela esperteza do mais fraco. Sua ferocidade nas narrativas populares não compensa a falta de inteligência. Neste aspecto vale a pena registrar uma variante da tradicional estória do lobo do cu queimado, esta informada em 07/07/2013 pelo sr. José Maria do Nascimento, natural da zona rural de Bias Fortes/MG, e aqui transcrita em suas palavras:

"O coelho estava amarrado para comer uma galinha gorda. Mas era mentira do coelho, porque eles queriam enfiar um ferro quente na bunda do coelho. Aí o coelho estava chorando. Chora daqui, chora dali... O lobo perguntou: 

_ ô coelho, quê que está chorando aí? Porque eu tenho que comer quatro galinhas gordas, eu não aguento... 

Aí o lobo...

_ então me amarra aí coelho, que eu vou comer! Isso pra mim é mole! 

Ele pegou as galinhas e comeu. Ele ficou lá amarrado. Chegou o dono das galinhas enfiou o ferro quente na bunda do lobo. O coelho tá lá no espigão: 

_ ô seu lobo do cu queimado! Ô seu lobo do cu queimado! (com voz debochada)

E o lobo lá com a bunda tudo queimada do ferro quente. Aí, o lobo falou: 

_ uai, mas o coelho pintou, fazer isto comigo! 

Mas o coelho toda vida é mais velhaco que o lobo..."



Notas e Créditos

* Texto e foto: Ulisses Passarelli

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