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Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Alguns comentários acerca de Matosinhos

Mostra-nos a história, que o Bairro Matosinhos, em São João del-Rei, era um lugar especial para a população são-joanense, uma espécie de refúgio aprazível, repleto de pomares, jardins, alamedas, incrustados em variadas chácaras e casas de campo, muito elogiadas pela beleza, qualidade do ar e pelo aspecto pitoresco. Neste cenário de romantismo, diziam que era a nossa Petrópolis, em comparação à cidade fluminense onde se refugiavam os cariocas – até a família imperial - quando queriam o sossego do interior. Fora as chácaras, só havia a igreja. E no mais era a natureza.

Calmo e pacato era o bairro, então dito arrabalde, arraial, aldeia, povoação e povoado - conforme aparece em inúmeras notícias jornalísticas do final do século XIX e início do XX. São João del-Rei era então uma pequena cidade, que fora o atual centro histórico, ia muito pouco além, com algumas casas espalhadas e os bairros mais antigos em derredor. Da cidade a Matosinhos era uma área pouco habitada; um caminho antiquíssimo, que a população denominava "Estrada da Tabatinga" e que era um trecho do Caminho Geral do Sertão. Caminho este usado pelo adentramento dos sertanistas, que trilharam sobre velhas picadas indígenas, as quais alargaram durante as bandeiras (GUIMARÃES, 1985; DERBY, 1899-A).  Tal estrada se tomava pelo alto do Matola (Rua Padre Sacramento), fugindo do terreno brejoso na margem do Córrego do Lenheiro. O caminho via Rua Antônio Rocha veio bem mais tarde, após a construção da linha férrea (inaugurada em 1881), que contribuiu com os aterramentos daquela via. A Estrada da Tabatinga adentrava no bairro Matosinhos pela atual Rua Bernardo Guimarães, após atravessar o Ribeirão da Água Limpa.

As festas animadíssimas e tão concorridas atraíam a população que lotava o bairro a ponto de esvaziar a cidade, provam muitas citações de jornais daquele tempo. Estas características marcaram época. Viajantes estrangeiros registraram suas impressões em crônicas de relatos. Poetas, jornalistas e estudiosos legaram observações interessantes para a posteridade sobre o bairro afamado. Esses informes são hoje valiosas fontes de pesquisa histórica, social e folclórica.

A Igreja preocupava-se em zelar sempre pelos dogmas de sua fé católica (NASCIMENTO, 2004). Os oitocentos se encerram com o catolicismo dominando, tradicionalista, ainda de cunho colonial, embora oficialmente já se estivesse numa república. A maior preocupação da Igreja então era combater maçons, protestantes e espíritas, tidos como seres quase demoníacos na época. A romanização já começara, ainda lenta, mas imperativa em seus objetivos. Jadir de Morais Pessoa observou com perspicácia [2]: 

"Tratava-se de um disciplinamento das práticas católicas, especialmente as disseminadas nas vilas e lugarejos distantes dos olhos do clero. Isso possibilitou que muitos analistas considerassem os atos litúrgicos e inclusive as festas criadas e dirigidas ao povo por esses espaços e agentes eclesiásticos como ações destinadas ao ensino e à manutenção da ordem. Todo um compêndio teológico, dogmático, doutrinário e moral deveria ser aí difundido e infundido nos fiéis que, em princípio e formalmente, não lhe opuseram resistência nem o renegaram."  (PESSOA, 2005, p.34-5)

A Igreja combateu o racionalismo e a secularização dos costumes, acentuando-se tais discursos com a separação Igreja-Estado. O século XIX concluiu-se ainda assim, com a tradição católica persistindo imperativa.

Créditos 

- Texto: Ulisses Passarelli 

Notas

- Revisão: 20/06/2025. 

Referências

 

DERBY, Orville Adalbert. O roteiro de uma das primeiras bandeiras paulistas. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 4, 1898/1899-A. p. 329-350. Disponível em: http://ihgsp.org.br/revista-ihgsp-vol-4/  Acessado em 28 dez. 2024.

GUIMARÃES, Geraldo. A Bandeira de Fernão Dias Pais de Ibituruna a S.Pedro do Paraopeba : uma hipótese a mais.  Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n. 3, 1985. p. 28-48.

NASCIMENTO, Sílvio Firmo do, Padre. O tradicionalismo católico em Minas no final do século XIX. Jornal de Minas, São João del-Rei, n.40, jul. / 2004. 

 

PESSOA, Jadir de Morais. Saberes em festa: gestos de ensinar e aprender na cultura popular. Goiânia: UCG / Kelps, 2005. 94p.

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