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sábado, 10 de junho de 2017

Festa do Divino 2017: fé e cultura de mãos dadas - parte 1

Após a importante novena e demais cerimônias e atrativos prévios, passou mais um Pentecostes e com ele mais uma edição do Jubileu Perpétuo em honra ao Divino Espírito Santo Paráclito, a vigésima de "resgate, na Paróquia do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei/MG. Eis que a popular Festa do Divino, persevera às adversidades e sobrevive congregando fé e cultura, devotos e visitantes. 

Nela o fiel redescobre sua raiz cultural, sentimental e espiritual; o folieiro glorifica seu dia maior; o congadeiro se irmana em ritmos e cores graças à fé comum. Cada devoto parece ser uma conta do mesmo rosário. A Igreja é o elo que fecha e harmoniza toda essa composição.  

Muitos, com olhos em lágrimas, beijam a bandeira quando a folia os visita, até mesmo enxugam o choro com seu pano, que cada vez se sacraliza mais, energizado por tantas águas, sorrisos, beijos, flores e perfumes depositados, preces sublimadas ao contemplá-la. Diante de uma folia nossa reza perfura as nuvens e chega à corte celeste, porque nosso coração se purifica. A melodia das folias nos remete ao mundo rural, à ancestralidade no campo. Desperta o caipira dentro de nós, aquela vontade de estar num ranchinho lá no sertão, à luz do luar. Folia é poesia! 

Na Festa do Divino o imperador faz as honras da casa. Acolhe, abençoa, equilibra tudo com seu cetro sagrado, qual um bastão de liderança. Imperador pondera, orienta. Ordena com um sorriso. Unifica. 

A equipe da cozinha se desdobra num trabalho muito árduo de produção do alimento; poucos cozinheiros (as) assistem a festa, tão grande sua labuta, mas garantem seu êxito, pois não há Festa do Divino sem fartura alimentar. É assim desde sempre, nas suas imemoriais origens. 

Reis e rainhas com suas capas esvoaçantes e coroas luzidias se posicionam para o recolhimento do reinado. Enquanto isto, no templo, fieis se sucedem em preces e veneração, admirando a beleza dos andores, diante dos quais não param de produzir selfies, fixação perene da cena de sua integração ao sagrado. 

Outros mais, nas barracas, comem, bebem, conversam, riem. Alegram-se. Ambulantes circulam vendendo picolés, algodão doce, pipocas. Outros trabalham, catando latinhas de refrigerante descartada,s afim de vendê-las para reciclagem. 

Sinos dobram. O incenso ascende e rescende. Santa Missa chama aos filhos de Deus para ouvir a palavra bendita da salvação. Pentecostes se impõe como um clamor pascal. Todos os padres da diocese deveriam ter ouvido o sermão do Bispo Emérito, Dom Waldemar Chaves de Araújo, esclarecendo e valorizando o papel da cultura popular na identidade coletiva e na evangelização. Prédica notável! Lição de valores e respeito!

Fé e cultura de mãos dadas são partícipes da construção coletiva da identidade e do bem comum. Juntas se potencializam em sinergia. 

A coroa recai sobre um jovem imperador. Esperanças se renovam rumo ao futuro. A festa deve seguir, perseverar... superar. A procissão inunda as ruas de preces e ecos de tambores; devotos se alternam na condução dos andores! Assim mesmo, poeticamente, como uma rima afetiva. Não há Festa do Divino sem emoção. Seria uma falsificação fria e grosseira se não gerasse a empolgação que semeia. Pedidos especiais são muitas vezes são feitos nesse momento de carregar nos ombros o andor pesado. é como uma penitência, mas no melhor sentido que a palavra comporta. Cavaleiros na dianteira ostentam o estandarte rubro. O Divino embandeirado abre alas. Chegada esfuziante! Bênçãos... "Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!"

Mastros vem ao chão: "Ai, vem do céu, bandeira!" canta o capitão. Ano que vem tem mais. Esperamos. E que seja cada vez melhor. 

O sábado, véspera de Pentecostes, 03/06/2017:

Festa do Divino, festa da alegria.
Folia de Coqueiros (Nazareno/MG). 
A corte do imperador se prepara: a Procissão do Imperador Perpétuo
vai descer mais uma vez rumo ao Santuário de Matosinhos. 
A procissão parte, avermelhando as ruas de graças afogueadas:
irmãos do Santíssimo, bandeireiros, folias... 
Folia do Elvas (Tiradentes/MG) em cantoria sob a voz do Embaixador "Natal". 
Mestre Matias: excepcional vitalidade na prática da tradição. 

Um ícone da festa: o Mordomo da Bandeira, sr. Mário Calçavara,
na charrete segue fielmente, como faz todos os anos, desde 1998. 
A "Rua da Prata" (Padre José Maria Xavier) é tomada:
louvores em versos de folia. 
Cavaleiros abre o cortejo procissional atravessando a Ponte do Rosário. 

O Imperador Perpétuo, Santo Antônio, no interior da liteira. 
O Folião Ventura em carinhoso e respeitoso gesto com a imagem
de Nossa Senhora do Rosário, exposta no trajeto, junto à Gruta do Divino. 
O Pároco dirige as preces na área da Gruta do Divino. 

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli
*** Obs.: confira na próxima postagem uma sequência de fotografias do dia maior


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