Além do hábito de fumar o tabagismo encontra outros
desdobramentos menos comuns que costumam gerar curiosidade em muitos, por causa
da estranheza que impõe: a prática de mascar fumo e de cheirar rapé, ambas em
verdade caindo em ocaso ante a conscientização dos riscos à saúde que as
campanhas veiculam e as próprias mudanças de costumes sociais. Ao uso do tabaco
este blog dedicou uma postagem. (*)
No passado era comum, sobretudo nas áreas rurais, algumas
pessoas carregarem consigo um pedaço (“lasca”) de fumo de rolo e dele cortarem
uma pequena porção e lançarem-no à boca. Por longo tempo põe-se a mastigá-lo,
lentamente. De tanto em tanto cospem um bocado de saliva saturada do caldo
produzido. O hábito considerado repulsivo por muitos, aparenta origem indígena.
Assim como o hábito de fumar, o de mascar também gera seu vício e os
praticantes o fazem por muitos e muitos anos de sua vida. Estes garantem que
traz benefícios aos dentes, afastando cáries, tanto mais ao intestino, por
isentá-lo dos vermes. Portanto, sob este aspecto, é mais um remédio popular. A
bem da verdade é um hábito em franco desaparecimento, que apenas sobrevive em
lugares recônditos entre pessoas bastante idosas, conforme observação no Campo
das Vertentes.
CASCUDO [s.d] dedicou um verbete ao assunto denotando sua origem tupi, difundida em formas e territórios diversos, mas apontou práticas semelhantes "pela Europa do norte, Inglaterra, Holanda". Fez sua aproximação desde a masca do fumo como outras folhas até nosso chiclete. Citando o relato de Antonil, atestou sua antiguidade entre nós: "homens há que parece não podem viver sem esse quinto elemento; cachimbando a qualquer hora em casa, e nos cachimbos, mascando as suas folhas, usando de torcidas, e enchendo os narizes deste pó." (in: Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711).
CASCUDO [s.d] dedicou um verbete ao assunto denotando sua origem tupi, difundida em formas e territórios diversos, mas apontou práticas semelhantes "pela Europa do norte, Inglaterra, Holanda". Fez sua aproximação desde a masca do fumo como outras folhas até nosso chiclete. Citando o relato de Antonil, atestou sua antiguidade entre nós: "homens há que parece não podem viver sem esse quinto elemento; cachimbando a qualquer hora em casa, e nos cachimbos, mascando as suas folhas, usando de torcidas, e enchendo os narizes deste pó." (in: Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711).
Já o cheirar rapé ainda se encontra, na cidade e nas roças.
Também rareou seu uso mas em relação ao marcar fumo é nitidamente mais usado.
Rapé é basicamente tabaco torrado reduzido a pó. É acondicionado em pequeninas
latas com tampa, para se trazer na algibeira, no bolso da calça, camisa ou
paletó. Outrora, quando era um hábito muito arraigado, traziam-no também em
pequenas bolsas de couro ou tecido de trama bem fechada, que chamavam “bocetas”
(de bolseta, ou seja, pequena bolsa de guardar objetos, à semelhança de um porta-moedas
ou porta-níquel).
O rapé se adquire pronto em tabacarias, mas onde as lojas
especializadas em artigos para fumantes não existem, o consumidor produz o seu
próprio. O modo artesanal é o seguinte: pica-se o fumo de rolo em pedaços bem
pequenos, que são a seguir levados a uma frigideira não untada. Ao fogo o fumo
deve ser mexido para não queimar. Deve ser torrado de maneira uniforme. Na
sequência, o conteúdo da frigideira é despejado em superfície plana onde é
moído por ação do movimento de vai-e-vem de uma garrafa deitada. A seguir o
fumo já reduzido a pó é coado para remoção de grânulos maiores, que podem ser
novamente submetido à moagem. A substância deve ser bem homogênea.
Cheira-se tomando um pequeno punhado entre a ponta dos dedos polegar
e indicador e leva-se a uma narina, aspirando, depois igualmente na outra.
Alguns usam tampar uma narina com um dedo enquanto se aspira com a outra. Cheiradores
de rapé costumam compartilhar entre si provas de seu produto. Oferecem ao
colega: “dá uma cheiradinha no meu rapé,
compadre” ou “experimenta este rapé”.
Faz parte, como um ritual de compartilhamento e muitos tem prazer nisto.
O rapé induz ao espirro. É muito comum que após cheirar o
indivíduo se ponha a espirrar uma ou mais vezes; tanto mais, julga que é melhor
o produto, pela qualidade do fumo empregado, mais forte ou mais fraco.
Justamente ao espirro atribuem empiricamente o processo de limpeza corporal.
Acreditam os usuários que o rapé desobstrui as vias respiratórias e contribui
para expectoração.
São especialmente procurados os rapés que possuem acréscimo
de certos pós adicionais, produzidos a partir de plantas de uso na medicina
popular: umburana, cânfora, eucalipto. A estes dão maior valor como remédio,
para combate a alergias respiratórias, rinite, sinusite. Eis a crença popular
dos usuários. Para sinusite é especialmente procurado o rapé de girassol, que
não leva tabaco. A semente do girassol deve ter a casca quebrada para extração
do “miolo” (gérmen) e este é torrado e moído da mesma forma.
Nunca é demais afirmar que este blog não recomenda nenhuma
destas práticas pelos efeitos maléficos que o tabaco gera sobre a saúde humana
e o vício que produz. Não há comprovação científica da eficácia medicinal do
hábito de fumar, mascar fumo ou cheirar rapé, tão pouco dosagem segura para uso.
O registro nesta página é de natureza exclusivamente etnográfica, pelo valor
folclórico que traz em si.
Notas e Créditos
* Leia a neste blog a respeito do
fumo:
FOLCLORE DO TABACO: as múltiplas faces do fumo na cultura popular
FOLCLORE DO TABACO: as múltiplas faces do fumo na cultura popular
**Texto e fotografia: Ulisses Passarelli
Referência Bibliográfica
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d]. 930p.
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