Babujar – sujar de baba, misturar com saliva, beber algo
direto no gargalo (sem usar copo, caneca ou xícara). Ato repudiado por ser
anti-higiênico. Beber no bico: por a
garrafa na boca _ é o próprio ato de babujar, mesclar o conteúdo com cuspe,
saliva.
Baquiado – que sofreu um baque, uma queda, resvalo.
Enfraquecido. Decadente.
Biboca – ou biriboca.
Palavra de origem indígena: escondido (no sentido de recôndito); longínquo. “Fulano mora num biboca”. “Não vou lá
naquela biriboca.”
Boia – comida. Para efeito deste vocabulário o termo não é
abordado no sentido do verbo boiar (flutuar), aquilo que boia, flutua; o
sentido é de alimento: “comer a boia”
(almoçar ou jantar), “boiar” (alimentar); “a
boia está fria”.
Café com
leite – neutro, peso morto, não essencial,
dispensável. Refere-se a pessoas que estão participando de algo, mas nada estão
somando. Se forem retiradas tudo continua como antes. “Fulano é café com leite”. Jogador de futebol que em campo não joga
nada; o mesmo que dente de leite.
Chispa – 1- fagulha,
labareda: “uma chispa de fogo iniciou a
queimada”. 2- ordem para ir
embora com rapidez: “chispa, menino!”;
ou seja, corre, vá, saia daqui, fuja. O verbo chispar significa correr, no
sentido de fuga espavorida. “Passou
chispando...”.
Conversa
vai, conversa vem – diálogo cheio de
voltas sem chegar ao âmago da questão; rodeio de palavras que não focam o
assunto; prévia numa conversa antes de se abordar o tema principal. Expressão
intermediária inserida numa narrativa, para indicar que além do que está sendo
narrado, houve ainda, muita conversa antes de se chegar ao fato e a seguir,
após enuncia-la, se narra o fato.
Dar sopa – dar bobeira, marcar
touca, não se acautelar, descuido, falta de prevenção.
De tanta
preguiça a minhoca ficou sem osso –
expressão usada diante do inerte, passivo, preguiçoso ao extremo. Tem antes o
caráter de insulto que de conselho ou lição moral, por isto se qualifica como
expressão e não ditado, não obstante o tamanho do enunciado e a imediata
aparência proverbial.
Descambar – mudar de direção repentinamente e contra a vontade,
inverter o lado que se ia, descer um morro, tombar numa grota ou montanha,
despencar, cair na ribanceira. “A
bicicleta descambou com ele ladeira abaixo.”
Desfiar o
rosário – contar uma longa e
lamentosa narrativa; externar problemas íntimos e angústias; desabafar as
decepções contando a alguém.
Dois pesos,
duas medidas – agir de uma forma com
uma pessoa e de outra forma com outra; tratar uma situação de uma maneira e
noutra ocasião, mudando os sujeitos, tratar de outra maneira. Medida sem
imparcialidade. Abordar de forma distinta a ricos e pobres. Discriminar.
Dose – situação desagradável, constrangedora; diálogo
ruim: “é dose!”; “foi dose!”. Diz-se
do que é difícil suportar. Por vezes vem intensificado sob a forma de
expressão: dose pra leão; dose pra
elefante; dose pra cachorro. Sempre é usado de forma exclamativa e
reticente. Pessoa de difícil convívio social: “fulano é dose!” Parece uma alusão a uma dose de bebida ardente ou
de remédio amargo, difícil de ingerir.
Dragão – pessoa desprovida de qualquer padrão de beleza;
muito feio. Palavra de insulto.
Em cima do
riscado – corretíssimo, alinhado, sem
qualquer erro.
Encafifar – cismar, desconfiar, suspeitar. Permanecer em longo
silêncio como se buscasse na mente uma resposta para algo: estar encafifado.
Esganar – 1-
atacar, avançar, agredir de unhas e dentes. Sinal de ferocidade: “começaram a brigar e a mulher esganou o
marido...” 2- comer
compulsivamente e sem regras mínimas de boa educação: esganado (devorador), esganação
(fome desmedida).
Fazer gato e
sapato – ou fazer de gato e sapato. Fazer o que quiser com alguém,
desrespeitar, humilhar, ofender, menosprezar, minimizar, desqualificar, abusar
de uma pessoa: “xiiii... dava dó de ver;
fez gato e sapato dela!”
Ficar
pianinho – cumprir rigorosamente as
regras; obedecer fielmente; não reclamar de nada. Manso. “Fica pianinho, filho, pra você não ser demitido!”
Filar – tomar (no sentido de usurpar), tirar uma porção,
pegar algo que não lhe pertence. Pequeno furto. Filão: quem tem o mal hábito de filar.
Firme igual
prego no angu – expressão bem
humorada: sendo o angu mole, um prego nele fincado jamais poderá ter firmeza.
Muito usada na conversa corriqueira, no ato de se cumprimentar um amigo: “_ ô fulano, bom dia! Como está? Firme?”
ao que se responde: “ _ Firme igual prego
no angu!”. Não é raro que se siga uma risada. Está subentendido que aquela
pessoa passa por qualquer dificuldade ou limitação, preocupação ou descontrole,
mas que leva com bom humor e resignação. Também se diz: “firme igual bosta”; “firme igual prego na gelatina”; “firme igual
prego na bananeira”. No sentido de amenizar uma vicissitude não deixa de
ser uma expressão de eufemismo.
Fogo – termo exclamativo, que indica uma situação agitada,
com certo descontrole, hiperatividade: “É
fogo, viu!”. “Ele é fogo!”. Para se qualificar o comportamento de um
indivíduo por vezes se torna em expressão: fogo
na roupa ou fogo no cu. Já a
expressão fogo de palha tem outro
sentido: indica uma pretensão passageira, brevidade de uma intensão, ação
descontinuada, falta de persistência para alcançar o objetivo, algo que começa
com intensidade e rapidamente decai.
Fora de hora – em horário impróprio. Tarde da noite. Além do
horário de convívio familiar.
Inhambado – atrapalhado, descontrolado, desgovernado. “O serviço tá todo inhambado”.
Invisão – visão assombrosa, aparição espectral, vidência
fantasmagórica.
Joia – ótimo; excelente. “O concerto estava joia!”; “o sapateiro arrumou a sandália e ficou
joia”.
Lereia – conversa fiada, diálogo sem proveito, palavreado
sem sentido, rodeio de expressões.
Lomba – ou lombeira.
Soneira, sonolência, preguiça. Vontade extrema de descansar, dormir nas tardes
quentes e após se alimentar muito. O mesmo que timoneira.
Matar quem
está me matando – matar a fome,
comer, alimentar-se.
Meia pedra;
meio tijolo – mais ou menos. Diz-se
daquilo que não se pode ter exatidão. Razoável. “_ Como
você está passando? _ Ah, vou levando... meia pedra, meio tijolo.”
Meio de
mundo – ermo; lugar despovoado e
longínquo, ambiente inculto, paragem que não tem nada. “Lá é um mei’ de mundo danado!”
Michorna – bagunça, desordem, ambiente desregrado. “Isso aqui tá uma michorna ...”
Não está com
nada no balaio – insignificante,
inexpressivo, sem representatividade, de pouca influência, sem poder de mando. “Fulano não está com nada no balaio!”
Não faz
falta nem fartura – expressão usada
para qualificar negativamente uma pessoa, cuja presença ou ação nada soma nem
subtrai; pessoa cuja presença é dispensável. Peso morto. “Não precisa
chamar fulano pra reunião; ele não faz falta nem fartura”.
Pandu – barriga; estômago. Encher o pandu: comer muito, devorar.
Pele e osso – magérrimo, caquético. “O cachorro tá pele e osso”.
Porongo – bobalhão,
idiota, apalermado, sem expediente, sem pró-atividade.
Rompante – arrogância, petulância, modo agressivo de se
expressar. Falar com rompante (com
impetuosidade). Chegar num rompante
(sem humildade).
Sacalão – balançar com vigor, sacudido brutal, resvalo forte. “Tomou um sacalão”.
Saco de
batatas – pessoa inerte, entregue à
preguiça. “Levanta daí, saco de batatas!”
Sungar – suspender (no sentido de erguer); levantar. “Sunga a tábua”, diz o pedreiro ao
servente.
Tilosca – considerável, significativo, desejável. É termo
sempre exclamativo e enfático, usado para indicar a opinião quando não se
convém usar as palavras formais: “Ô
tilosca!”.
Timoneira – grande sonolência durante o dia, não o sono normal
que vem à noite. Desânimo extremo ao calor do dia. Bocejos subsequentes e muito
próximos uns dos outros.
Tratar a pão
de ló – cuidar com todo zelo; tratar
da melhor forma possível, não apenas no sentido de alimentar com fartura e
qualidade. Dar o melhor de si para outrem.
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
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