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domingo, 26 de junho de 2016

A saudosa folia de Santa Cruz de Minas

De forma bem superficial e prática, sem abordar questões históricas, pode-se dizer a título de mera observação prévia, que as folias de São Sebastião no Campo das Vertentes são extensões temporais das folias de Reis, com nova roupagem. 

Fortemente arraigadas a esta área das Minas Gerais, desenvolveram-se com grande aceitação popular em torno da devoção ao Guerreiro da Fé, o Mártir São Sebastião, prestigiado protetor contra, a fome a peste e a guerra. Vencido o Dia de Reis (seis de janeiro), até o dia vinte, circulam em missão. Janeiro é pois o seu tempo. 

A bem da verdade o costume regional atribui a esta folia a mesma ritualística jornadeira de visitar famílias, cantar de porta em porta, saudar aos anfitriões, venerar ao santo estampado em sua bandeira com versos cantados, solicitar em seu nome um donativo e em agradecimento entoar novos versos, que culminam com o pedido de devolução da bandeira e a despedida. A diferença das folias de Reis, de maneira bem sintética é que não visitam presépios, que via de regra a este tempo já foram desfeitos e por conseguinte não cantam aos Reis Magos, a não ser eventualmente se um detalhe inesperado o exigir. Os versos são todos voltados carinhosamente a São Sebastião. Alguns grupos tocam ritmos diferentes para as duas folias, outros não, só mudam os versos e a bandeira. 

Em Santa Cruz de Minas o padroeiro é São Sebastião. Nada mais natural que numa região folieira como esta, encravada entre São João del-Rei e Tiradentes, ambas com forte tradição de folias, que Santa Cruz também as tivesse em alta conta. Nos meados do século XX eram mais comuns e afamou-se o grupo de Miguel Silva e "Lóca", por longos anos. Depois esteve uns tempos desativada e retornou nos anos noventa sob a bandeira do Folião Sebastião Mário e a voz do Embaixador Murilo, experiente, afinado e conhecedor da tradição. Pouco depois Murilo assumiu a folia por completo e a manteve por alguns anos, estando nos dias atuais desativada. 

A igreja do santo na cidade festeja São Sebastião em janeiro com grande concorrência popular em programação intensa e afamadas quermesses, as tradicionais "Barraquinhas do Porto", por longos anos faladas em São João del-Rei como excelentes. Pois bem. Ainda hoje é corriqueiro que no dia maior folias vindas de municípios vizinhos espontaneamente passem pela igreja em diferentes horários ou mesmo participem da procissão. O município tem assim uma vocação, digamos assim, a esta atividade cultural e bem poderia firmar um bom encontro de folias ou mesmo recompor a folia. 

Mas enquanto isto não se concretiza, fiquemos com os acordes saudosos de uma saída da folia local em 1995, quando a treze de janeiro partiram mais uma vez para visitar os devotos em suas casas. 



Notas e Créditos

* Texto, vídeo e acervo: Ulisses Passarelli
** Ver também neste blog: FOLIA DO PORTO

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