Coletânea de notas hemerográficas de São João del-Rei e cercanias
(1900-1948)
O que foi dito como introdução à
primeira parte desta postagem (acesso por link ao final deste post) serve exatamente a esta segunda
parte. Portanto, por questão de praticidade, para não repetir as palavras,
vamos direto à exposição da nova coletânea de notícias avulsas e independentes. É recomendada a leitura das notas de rodapé, que contém alguns comentários sobre as notícias.
Poço do Olho d'Água no Ribeirão São Francisco Xavier, Serra do Lenheiro, São João del-Rei/MG |
1900:
- Reforma na Igreja das Mercês – “Estão muito adeantados os reparos que, na
Igreja das Mercês, estão sendo feitos pela actual Mesa Administrativa. O forro
já está decorado, tendo sido estampado um retrato da Virgem das Mercês, ladeado
pelos seus servos S.Pedro Nolasco e S.Raymundo Nonato. As obras restantes
prosseguem.” (O Combate, n.10, 05/09/1900)
1901:
- “Praça Pedro Paulo – A Camara Municipal, reconhecendo os relevantes
serviços prestados pelo illustre Coronel Pedro Paulo da Fonseca Galvão, em sua
sessão, do 28 do passado, deu o nome do benemerito militar, á Praça, que se estende,
da ponte das Officinas[1]
ao Ribeirão d’Água Limpa. Foi um acto de justiça. Apresentamos ao Coronel Pedro
Paulo os nossos parabéns.” (O Combate, n.76, 03/07/1901)
- “Mercado Municipal – Dentre as medidas redundantes em economia ao
Thesouro Municipal, está o arrendamento do nosso Mercado e sabemos que está no
animo da nossa Municipalidade por em hasta publica o arrendamento d’aquelle
edifício publico. Ultimamente a fiscalização do Mercado Municipal tem ficado
bastante despendiosa para os Cofres Publicos municipaes e por esse motivo quer
e pretende a Camara arrendal-o e para isso estão sendo estudadas as bazes
respectivas.” (O Combate, n.104, 21/09/1901)
- Hotel Oeste de Minas[2]
(anúncio): “Attenção – Hotel Oeste de
Minas – Valentim e Santos Martinelli – aposentos arejados, salões, bilhares,
parques, banheiros, duchas e carro para conducção de hospedes, isto gratis. Não
aceitam tuberculosos. Diarias: adultos...7$000 Creanças e creados pagarão um
preço razoável, na occasião combinado. As famílias ou grande numero de pessoas
gozarao do abatimento que sera convencionado. S.João d’El-Rey”. (O
Combate, n.128, 30/11/1901)
1905:
- “Quaresma – Ao que consta, ouviremos, pela Quaresma e semana santa, o
Stabat Mater de Rossini, o de Calvo, o de Pergolesi e o de nosso inolvidável
conterrâneo Presciliano Silva; as missas e credos de Giorza, de Salvi e de
Bellini; e, na sexta-feira maior, a majestosa composição de L.Perozi: Ceia e
Morte de Christo. É uma excelente nova para os amantes da boa musica, nada
sendo preciso accrescentar acerca do desempenho reservado a taes composições,
que está confiado á orchestra do maestro Ribeiro Bastos.” (O Repórter,
n.2, 05/02/1905)
- “Relógio – Já sahiu da Europa um excelente regulador, que a Mesa da
Irmandade do Sacramento, com auxilio da Camara, destina a nossa egreja Matriz,
em substituição ao velho relógio que, pelo seu incessante trabalhar, já tem as
molas principaes estragadas, regulando mal.” (O Repórter, n.2,
05/02/1905)
1906:
- Reforma do Mercado– “Estão muito adeantadas as obras, que estão
sendo realisadas no Mercado Municipal e destinadas a receberem a nova grade de
ferro, que a Camara manda colocar ali, levando mais esse acto para o activo de
seus serviços a esta cidade e no Municipio.” (O Repórter, n.25,
29/07/1906) [3]
- “Nuvem de gafanhotos – Como em Juiz de Fora, no mesmo dia 9, segundo
telegramma transmitido dessa cidade para a imprensa carioca, seguindo o mesmo
rumo de norte a sul, cerca de 2 horas da tarde, atravessou aqui uma grande
nuvem de gafanhotos, em certos pontos tão intensa que conseguiu encobrir os
raios solares. Alguns eram de tamanho nunca aqui visto, não deixando de causar
um certo temor na população. Felizmente a travessia dos terríveis insectos foi
de uma hora, mais ou menos.” (O Repórter, n.37, 14/10/1906)
1907:
- “Ramal de Pitanguy – Por estes três meses, diz telegrama do snr. Dr.
Chagas Doria ao snr. Ministro da Viação, deverá ser inaugurado o ramal de
Pitanguy, melhoramento importante, que, desde muito tempo, está a reclamar a
sympathica cidade sertaneja.” (O Repórter, n.22, 23/06/1907)[4]
- Problemas sanitários – “O dr. F. Catão realmente precisa de tomar
um destes trens, mas não para se ir de vez, mas para voltar o mais breve
possível, e trazer em sua companhia gente que nos ajude a fazer reclamações
contra a agua suja, a praia[5]
suja, o matadouro sujo, as ruas sujas que temos nesta hospitaleira, e salubre
cidade.” (O Grypho, n.10, 24/11/1907)
1917:
- “Chuva Providencial – Parece que alguém lá das alturas, attendendo ás
reclamações do povo, delle condoeu-se e mandou, no segundo dia de festas em
Mattosinhos, uma chuvinha miúda incumbida de aplacar o pó que era barbaro e
inclemente. Ninguém lá de cima tem obrigação de mitigar os soffrimentos dos que
estão cá em baixo; compete somente á Câmara mandar irrigar o Largo de
Mattosinhos e trazer-lhe uma capina em regra, porque só ela tira proventos do
povo com pesados impostos e taxas absurdas. Os negócios de nossa Câmara vão de
mal a pior. É o povo queixar-se ao bispo.” (A Nota, n.24,
30/05/1917)[6]
- “Apparecem os gafanhotos – Lá pelos lados de Aguas Santas e nas
imediações do estribo do Brighentti, começam a aparecer densas nuvens de
gafanhotos, pondo em polvorosa o pessoal por onde passam os bandos dos
danninhos insectos. Quem nos trouxe a noticia affirma-nos que durante a
passagem dos terríveis orthopteros nota-se uma escuridão qual a da noite;
afirma-nos mais o nosso informante que o espectaculo é medonho e quem o
presencia tem a impressão perfeita do barulho de uma hélice de aeroplano em
franca rotação. É bem provável que, devido a nossa cidade achar-se nas
proximidades onde os gafanhotos estão aparecendo tenhamos dentro em breve de
observar também tão terrível espectaculo. Caso apareça tão terrível flagello
entre nós, como providenciará a nossa Câmara? É ir-se preparando desde já...”
(A Nota, n.25, 31/05/1917)[7]
- “Voluntários de manobras – No quartel do 51º batalhão de Caçadores
encerrou-se hontem a inscripção para o voluntariado de manobras. A mocidade de
S.João d’El-Rey acaba de dar mais uma prova de seu nunca desmedido civismo.
Alistaram-se 213 voluntarios, dos quaes 202 foram considerados aptos, 9
julgados incapazes e 2 não compareceram á inspecção medica. Podemos dizer com
orgulho que S.João d’El-Rey é a cidade de Minas que maior numero de reservista
tem dado ao exercito; com o contingente de agora esse numero attinge acerca de
quatrocentos homens.” (A Nota, n.70, 21/07/1917)[8]
1923:
- Aquisição de terreno – a
Resolução Municipal nº481, de 31/03/1923, autoriza o executivo à compra de um
terreno, “por quantia não excedente á da
compra effectuada ao sr. Francisco Messias da Silveira, a parte pertencente a
d. Ermelinda da Silveira Milward no immóvel chamado “Olhos de Agua”, junto ás
vertentes da represa velha do abastecimento desta cidade.” (A Tribuna,
n.468, 15/04/1923)[9]
1926:
- “Estação de Caburu – É justo salientarmos nesta folha os constantes
esforços com que contribuiu para a construção da estação de Caburu o sr. cel.
Antônio Balbino de Sousa. Aquelle nosso prezado amigo desdobrou-se em boa
vontade e atividade para a consecução do importante “desideratum”, tornando-se,
portanto, merecedor dos mais effusivos louvores.” ( A Tribuna, n.751, 28/05/1926)[10]
- Escola distritais – a lei
municipal nº496, de 27/11/1926, autoriza a criação de uma escola noturna na
Colônia José Teodoro e outra em “Nazareth”, atual cidade de Nazareno. (A
Tribuna, n.814, 30/12/1926)[11]
- Estrada de Turvo – por força da
lei municipal nº497, de 27/11/1926, a Câmara Municipal de São João del-Rei
autorizou a despesa de 10:000$000 (dez contos de réis), como subvenção
parcelada para o exercício financeiro do ano seguinte, para construção da
estrada de automóveis interligando esta cidade a Turvo, atual Andrelândia, no
Sul de Minas Gerais. (A Tribuna, n.814, 30/12/1926)
1932:
- Festa no Albergue – “Encerraram-se com a procissão de domingo
último, dedicada a S.José, as tradicionais festividades que se realisam na
Capela do Albergue Santo Antonio. O préstito religioso de domingo esteve
brilhante, comparecendo elevado numero de fieis. A banda do 11º R.I.
abrilhantou todas as festividades, quer aos tríduos, quer a procissão. De ordem
da Prefeitura foi iluminado o morro do Albergue, oferecendo este agradável
impressão”. (Folha Nova, n.8, 24/04/1932)[12]
1938:
- “Missa dos Alfaiates - A comissão de alfaiates encarregada de promover
a missa em honra à S.Geraldo, o protetor da classe, pede-nos avisemos que por
falta de sacerdote não pode ser celebrada hoje, dia do milagroso santo, ficando
por isso transferida para amanhã, ás 7 horas na Igreja Matriz. A referida
comissão faz um apêlo para que todos os alfaiates compareçam a esse ato
religioso, afim de ganharem graças para o constante progredir religioso desta
tão numerosa classe operária.” (Diário do Comércio, n.181,
16/10/1938)[13]
- “Nova rodovia de S.João del-Rei á Barbacena – As empresas de transporte
desta cidade, estando á frente o Expresso S.João e o fazendeiro Abel Carlos
Moreira Campos, do distrito de Padre Brito, projetaram a construção de uma
linha rodoviária, ligando o distrito de S.Francisco do Onça ao Ponto Chique,
quilometro 27 da estrada de Ibertioga, ficando desse modo S.João del-Rei ligada
a Barbacena por uma nova via, num percurso de 80 quilometros certos. Essa
rodovia destina-se principalmente ao tráfego de caminhões pesados e de ônibus
com as rampas em gráca necessários a tais transportes.” (Diário do
Comércio, n.212, 23/11/1938)
1948:
- “De Prados - Natal dos pobres - Consoante o costume, realizou-se nesta cidade, a 25
de dezembro, o já tradicional almoço ajantarado oferecido pelas exmas. familias
aos pobres da localidade. Devido ao mau tempo reinante, essa interessante
refeição coletiva não teve a mesma concorrência dos anos anteriores, tendo dela
participado uns 200 pobres. As respeitáveis irmãs de caridade da Santa Casa
serviram o almoço, com a cooperação de distintas jovens do nosso escol social.”
(Diário do Comércio, nº2.975, 04/01/1948)
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Placa indicativa improvisada no distrito de Emboabas (ex São Francisco do Onça) indicando o entroncamento para Ponto Chique. |
Referências Hemerográficas
Jornais editados em São João
del-Rei; acervo da Biblioteca Municipal
Baptista Caetano d’Almeida, desta cidade
Referência Bibliográfica
Prontuário Geral das Estações
Ferroviárias, 1945. 2.ed. Belo Horizonte: Departamento de Estatística,
1947.
VIEGAS, Augusto. Notícia de
São João del-Rei. 3.ed. Belo Horizonte: [s.n.], 1959.
Notas e Créditos
*Texto, pesquisa e fotografias: Ulisses Passarelli
** Leia também neste blog a
primeira parte desta postagem como mais notícias históricas:
[1]
- Ponte das Officinas: o sentido exato não está claro e pode se referir a duas
pontes: 1- havia uma ponte sobre o Córrego do Lenheiro interligando a Rua
Antônio Rocha à Paulo Freitas, em frente às oficinas da Estrada de Ferro Oeste
de Minas. Esta ponte não existe mais. Ficava exatamente entre as atuais pontes
Inácio Zózimo de Castro e Monsenhor Tortoriello; 2- pequeno pontilhão da via
férrea sobre o Córrego da Tabatinga, na saída da estação, entrada do Bairro São
Judas Tadeu (antiga Caieira). É possivelmente a esta ponte que se refere o
texto, pois dela à Ponte do Ribeirão da Água Limpa ainda hoje é o logradouro
conhecido por Praça Pedro Paulo, popularmente, “PPP”, outrora chamada “Estrada
da Tabatinga”. Era o caminho antigo de acesso a Matosinhos.
[2]
- O Hotel Oeste de Minas sofreu terrível incêndio em 1919, que representou o
seu fim. O prédio, contudo, construção muito sólida, foi mantido e hoje em excelente
estado de conservação, sedia o CESC (Centro Social e Cultural), do 11º BI,
Regimento Tiradentes, do Exército Brasileiro.
[3]
- O mercado naquele tempo ficava exatamente ao lado da Prefeitura Municipal, no
terreno onde mais tarde foi construído o Fórum, prédio que hoje serve à Câmara
Municipal.
[4]
- O ramal referido era um trecho de via férrea de cerca de 45 km, que
interligava a cidade de Pitangui à “Linha do Sertão” da Estrada de Ferro Oeste
de Minas, com a qual se encontrava exatamente na Estação de Velho de Taipa, km
436,928. A inauguração se deu em 23/11/1907.
[5]
- Praia: nome corriqueiro que os são-joanenses dão ao Córrego do Lenheiro, que
entrecorta a cidade.
[6]
- Tradicionalmente, desde o século XVIII, eram três dias de festejos
subsequentes: Domingo de Pentecostes consagrado ao Divino Espírito Santo,
segunda-feira (o segundo dia), consagrado ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos e a
terça a Nossa Senhora da Lapa.
[7]
- Até 1930 a Câmara Municipal congregava todos os poderes. Um dos vereadores
era escolhido para ser o agente executivo, cargo que corresponde ao atual de
prefeito. Daí, em todas estas notícias antigas, os pedidos de providências e as
referências a autorizações, sempre partem da Câmara. Somente com o Estado Novo
de Getúlio Vargas se estabelece o regime de prefeituras, separando o executivo
do legislativo.
[8] -
Notar que este fato ocorre no período coincidente com o da 1ª Guerra Mundial.
[9]
- Ainda hoje a região do Olho d’Água, no Ribeirão São Francisco Xavier, em área
do Parque Ecológico Municipal da Serra do Lenheiro, é fornecedora de água para
abastecimento público.
[10]
- Este Sr. Antônio Balbino de Sousa, foi Imperador da Festa do Divino no ano de 1923, salvo caso de engano por se tratar de um homônimo. A este respeito veja a postagem: AS FESTAS DE 1923. Estação de Caburu: ficava no distrito são-joanense de São Gonçalo do
Amarante, ex Caburu. Esta notícia é intrigante pela data (1926), porque consta
que a estação deste distrito só foi inaugurada quatro anos depois, em 1930 (A
Tribuna, n.1.012, 16/02/1930), com o nome de Mestre Ventura. Seria a mesma
plataforma férrea? Antigos moradores de São Gonçalo referem-se a uma primitiva
parada do trem no km 123, contudo, a Estação de Mestre Ventura ficava no km 127,137.
Seriam as mesmas plataformas de embarque e desembarque? Ou a inaugurada em 1926
era a parada do Km 123, depois substituída pela estação de 1930 no km 127? Para
aumentar a controvérsia, o “Prontuário Geral das Estações Ferroviárias”,
referenciado nesta postagem, dá para a Estação de Mestre Ventura a data de
07/09/1931... Seria ainda uma remodelação daquela de 1930? Eis um campo aberto
a pesquisas de confirmação. A estação foi demolida após a erradicação dos
trilhos e dela só restam vestígios das pedras da plataforma e a caixa d’água.
[11] -
Nazareno emancipou-se de São João del-Rei em 1953. A escola da colônia não
existe a muito tempo e está arruinada.
[12] -
A Capela de Santo Antônio, do Albergue Santo Antônio, nos limites entre a Rua
Frei Cândido e Praça Dom Silvério, no Bairro das Fábricas, data de 1912.
[13] -
Outra notícia da Festa de São Geraldo promovida por alfaiates surge no jornal A
Tribuna, n.692, de 25/10/1925, que diz que o santo é “protetor da laboriosa classe”. Daria motivo para um oportuno estudo
a hipótese da construção da capela deste santo no alto do morro que ganhou seu
nome, ter sido ou não sob a influência ou iniciativa dos alfaiates, haja vista
estar nos limites do Bairro das Fábricas, onde se situavam várias fábricas de
tecidos, estabelecidas a partir do final do século XIX. Afirmou Augusto Viegas
que a Capela de São Geraldo foi “erigida
em 1914, graças principalmente aos esforços de Lúcio Justino de Andrade,
modesto operário” (p.262). Qual a real importância que o estabelecimento das
tecelagens teve na urbanização daquela área da cidade?
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