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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Dia Maior do Jubileu do Divino 2015

No último dia 24, Domingo de Pentecostes, encerrou-se em São João del-Rei a tradicional Festa do Divino, um jubileu que acontece no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. O dia maior foi o mais animado dos últimos cinco anos e a sua organização evoluiu.

Andor do Divino Espírito Santo. 
Como de costume, pelas oito da manhã começaram a chegar os dançantes de diversos congados convidados, que logo seguiam para o salão, onde lhes foi servido o café da manhã com pães e quitandas. Cada qual entrou e saiu cantando do salão e de praxe com versos de gratidão pelo desjejum oferecido.


A mesa do café da manhã. 

Na sequência, tomando o largo, apresentaram-se ao povo ou dançaram no adro quando a celebração festiva já tinha terminado. Então rumaram para o Salão de Santo Antônio, para recolher o reinado. Cantaram suas saudações aos reis, rainhas, príncipes e princesas. É de se notar que o referido salão ladeia a linha férrea e quando o trem passa, a atmosfera como que se carrega de nostalgia e simbolismo: os dançantes de fora da cidade, não afeitos a ver a maria fumaça, logo se voltam para vê-la fumegando e os passageiros por sua vez, turistas, fixam aquela visão colorida e fugaz dos congadeiros, em retratos e vídeos. O apito da locomotiva se mescla aos tambores e sua fumaça evoca um incenso. Cortejo de retorno formado, a guarda de Passa Tempo é a última, pois cabe ao moçambique mais antigo na festa trazer a 1ª coroa e seu Capitão-mor, sr. Luís Maurício, é o Capitão de Coroa desse festejo desde 1999.

A chegada à igreja é esfuziante e os coroados foram deixados no interior do templo, enquanto os congados passaram diante do altar e saudaram o sagrado com muito carinho. Seguiram para o almoço. A chamada dos reis e rainhas deu-se nesse momento.

O almoço é um momento de grande confraternização, instante no qual dançantes de várias guardas de congado e cidades se irmanam num burburinho imenso, conversando alegremente. A equipe da cozinha é grande e zelosa e todos os anos trabalha com afinco para servir centenas de refeições gratuitamente. Cada grupo agradeceu o alimento e saiu do salão dançando rumo à Praça de Santa Terezinha. Lá, onde um mastro sinalizou a comemoração, foram em visita à igreja, onde o andor do Rosário, muito bem enfeitado de flores, recebia uma verdadeira peregrinação de congadeiros. As guardas entravam dançando pela porta principal da Igreja de Santa Terezinha e saíam pela lateral, sucessivamente. Muita gente moradora dos arredores juntou na praça para assistir.

Montou-se o cortejo imperial, retornando ao santuário. A praça estava cheia de dançantes e de assistência. O vilão de Perdões após exímia apresentação individual, alegre e colorida com a percussão de varas enfeitadas, dividiu-se em duas alas e seguiu pela lateral do cortejo, de fora a fora, até a dianteira, assumindo-a, como sói acontecer com as guardas de corte. Na sua dianteira só o grande estandarte do Divino de abre-alas. Se o vilão é o primeiro, o moçambique é último, o do Capitão de Coroa, como já foi dito, seguido pela corte do Imperador, o próprio e seu futuro substituto, com todo aparato habitual e o andor do Rosário. Entre o moçambique e o vilão, seguiam os outros congados, cada qual com seu ritmo, fardamento peculiar, musicalidade específica, cantares, danças, adereços, instrumentos: pelo estilo dos catupés, vieram aqui mesmo da cidade, dos bairros: São Dimas (Capitão Moacir Santana), São Dimas (Capitã Maria Auxiliadora, uma guarda mista, que também bate moçambique), Matosinhos (Capitão Tadeu), Restinga (Ritápolis), Ritápolis (cidade), Resende Costa (Terno São Cosme e São Damião), Coronel Xavier Chaves, Conceição da Barra de Minas, Santa Cruz de Minas, Prados e Cláudio; marujos do Capitão Ganair (presença assídua desde 1998), de Conselheiro Lafaiete; congos de Itutinga, Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei) e São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei); moçambiques bate-pau de Santana do Garambéu, Paraíso Garcia (Santa Rita do Ibitipoca) e Barroso; e ainda outros moçambiques, do tipo jomba: do Bairro São Geraldo em São João del-Rei (bandeira de Santa Efigênia), do Bairro Solar da Serra da mesma cidade (também uma guarda mista que bate igualmente catupé), de Macaia (Bom Sucesso), Bom Sucesso (cidade), Ibituruna e Pedra Negra (Ijaci). Notória a presença do grupo do Rio das Mortes, que não tem o costume de sair para outras festas como esta e foi por todos muito bem visto e admirado.

Reinado e Imperador chegam ao Santuário.

O cortejo serpenteou pelas ruas de Matosinhos até chegar ao santuário. A musicalidade impressionante tomou conta de todo o itinerário. Na entrada, já o Imperador Coroado sob a umbela recepcionava cada grupo e ofertava uma lembrança da festa, uma peça artesanal simbolizando a pombinha do Divino. Todos os grupos novamente fizeram entrada por dentro do Santuário lotado, sob uma assistência atenta, que também estava no adro, fazendo um corredor para a passagem dos congados. 

A missa solene, celebrada pelo Bispo Diocesano, Dom Célio de Oliveira Goulart, contou com a participação também do Vigário Paroquial de Matosinhos, Padre Geraldo Sérgio França e do Diácono Permanente Ademir Noel, aliás presente com muita dedicação à festa inteira, desde o primeiro dia da novena. A reflexão religiosa tematizada no "Espírito Santo na vida da Igreja", analisada a cada dia de novena sob a ótica dos seus sete dons, foi em verdade coroada no dia maior, tanto na missa festiva matutina quanto nesta, solene, por uma homilia muito bem pregada, que ressaltou a importância litúrgica da data, a bem da verdade, aniversário da Igreja. Em todo o mundo o Espírito Santo dá a luz e o vigor ao povo de Deus para não esmorecer em sua caminhada ao longo da vida. 

Apagando o Círio Pascal. 
Ao fim da celebração houve a cerimônia para apagar o círio pascal e na sequência a coroação do novo Imperador. O sr. Dácio Sebastião de Carvalho, portando as insígnias e trajes de costume, fez a entrada pelo centro do santuário, tendo de um lado a esposa e do outro o filho, até o altar, onde subiu e saudou as autoridades eclesiásticas. Com a ajuda do Mestre de Cerimônias, sr. Otávio Félix Pereira da Silveira, também festeiro do Divino a muitos anos, e sob a tradicional e indispensável locução do insigne Professor Abgar Tirado, que narrava aos fiéis as etapas da coroação, o Sr. Dácio entregou a salva, a coroa, o cetro, a capa e a faixa, nesta ordem, e assim descoroado voltou-se ao fiéis saudando-os alegremente e sendo ovacionado. Deixou então a parte do altar e veio se postar junto ao espaço reservado aos imperadores de outros anos que acompanhavam a cerimônia, desta feita sem participar do cortejo abre-alas de entrada desta cerimônia, o que, aliás, não foi em geral do agrado de alguns. O Sr. Francisco José do Nascimento, eleito imperador para o ano de 2015, já postado junto à porta de entrada, trajado de terno completo como é de praxe ao cargo, ladeado pela esposa e seguido por familiares, fez sua entrada ao som de três jovens músicos solistas da Banda Sinfônica do Santuário, sob a batuta do sr. Ronaldo Medeiros, que tocaram a Marcha Triunfal de Aida (Verdi). O Imperador Eleito subiu ao altar com a esposa, que foi convidada a afixar o brasão dos imperadores no paletó do esposo. Recebeu sequencialmente a faixa e a capa. Ajoelhou-se num genuflexório e o bispo o coroou, sob as palmas da igreja lotada. Recebendo a salva e o cetro, se ergueu e voltou-se aos devotos, com estampada alegria no rosto e a prerrogativa do papel assumido que demanda muito trabalho e dedicação para a preservação do jubileu. Muita gente acorreu para cumprimentá-lo e fazer fotografias. 

Cerimônia de coroação do novo imperador. 

No adro, após a missa, alguns congados fizeram apresentações. A procissão contou com uma grande massa de fiéis, sendo aberta pelos cavaleiros com estandarte e bandeiras. A Comissão do Divino em boa hora distribuiu velas aos devotos. A liteira ia na frente, o andor de Nossa Senhora da Lapa ao centro e o do Divino na retaguarda, os três iluminados e muito bem enfeitados por flores. Alguns congados acompanharam já que a maioria nessa hora já partira. Deles se destacou o de Passa Tempo que não parou de bater um minuto sequer desde a saída, com seu grande coro de vozes entoando vigorosamente os cantos de fundo religioso. Na chegada houve a bênção do Santíssimo Sacramento, conduzida pelo Pároco e Reitor do Santuário, Padre José Bittar. 

Andor de Nossa Senhora da Lapa no momento da chegada da procissão. 

Os mastros foram descidos pelas vinte horas, pelo congado do bairro, com o Capitão e Imperador José Tadeu do Nascimento, e a presença conjunta do Capitão de Mastro, José Adnei da Luz e da também bem vinda ajuda do Capitão de Ritápolis, Geraldo Marcelino, que conduziram o ritual. Tiveram ajuda imediata como todo ano tem acontecido do Capitão Luthero Castorino, um dos fundadores e imperador. Muita gente assistiu à descida. 

Descida do mastro de Santo Antônio. 
O show de encerramento iniciou imediatamente, cantando a dupla Márcio e Heleno para uma boa platéia. Na víspora e nas barraquinhas de comes e bebes havia grande movimento.

Mais um ano vencido, o 18º do resgate. A festa ganha maioridade em sua nova fase e isto exige muito de todos os membros da Comissão do Divino. Abnegação, maturidade, fé, disponibilidade e responsabilidade são indispensáveis a um festeiro de jubileu. Como ponto negativo somente há de se lamentar e muito à falta da Missa Inculturada, momento que rememora a saga do africano, a sua força, a sua luta. Em compensação não tivemos no seu dia a igreja lotada como antes... Muita gente reclamou a falta deste evento religioso e pôs esperanças no seu retorno para o próximo ano. 

Os carismas, os dons, os frutos se manifestam de muitas formas. Inclusive nas expressões culturais. Por elas o povo manifesta ao seu modo e em sua linguagem a fé mais legítima. O folião e o congadeiro tem muita espiritualidade, à flor da pele em verdade. Seu canto é um louvor genuíno, espontâneo, sempre com muita alegria, respeito e musicalidade, porque quem gosta de tristeza não é de Deus. E quem duvidar que venha ver: a cada ano a alegria do dançante e da assistência nesta festa gigante do povo de Deus. É pela sua felicidade que o jubileu se processa e consolida. Uma alegria jubilar, carismática, contagiante. É fácil encontrar no meio dos fiéis gente emocionada com a atmosfera envolvente que o evento cria. É um jubileu singular e a mais importante festa com elementos da cultura popular na região. 

É por causa desta verdade que não se acha palavras para expressar, apenas meios de sentir, que ouvi no meio da multidão alguém dizer: "toda festa da Igreja é boa, mas a do Divino, é especial!"

Imperadores de vários anos durante a Missa Solene. 

Imperadores de vários anos durante a Missa Solene. 
No salão, uma congadeira de Barroso saúda a bandeira do congado de Matosinhos,
que chegou para o café da manhã.
O congo de São Gonçalo do Amarante em marcha de rua. 
Congo de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno se apresenta no adro. 
  
Do Bairro São Dimas, o congado do Capitão Moacir, de São João del-Rei. 

O tradicional congado de Conceição da Barra de Minas. 

Congado de Cláudio adentra pelo santuário. 

Congo de Itutinga, com seus muitos reco-recos de bambu. 

Exuberância das fitas dos marujos de Conselheiro Lafaiete. 

Do município de Santa Rita do Ibitipoca, hábeis moçambiqueiros
percutem bastões num ritmo muito bem marcado. 

Guarda da cidade de Ritápolis, com seus grandes tambores de guia. 

Sempre presente, o congado de Santa Cruz de Minas. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli.
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 24/05/2015.
*** Para saber mais, leia também:

PROCISSÃO DO IMPERADOR PERPÉTUO 2015

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