Outros trabalhos

domingo, 22 de março de 2015

Na minha terra se fala assim - parte 10

Morcego – embrulhão, ruim de serviço, sem expediente, aquele que não é pró-ativo. Quem faz corpo mole no serviço deliberadamente. Quem propositalmente não trabalha com afinco, dedicação, para passar logo o horário de trabalho sem rendimento. Fazer morcegagem: enrolar serviço; fingir que está trabalhando.

Morgado – encurvado, envergado. Torto.

Mucureba – o mesmo que “mocorongo”. Deselegante, simplório, fora da moda. 

Muito fogo para pouca lenha – expressão que indica muito entusiasmo para algo que efetivamente dará um pequeno resultado. Diz-se de quando se investe com energia em alguma coisa pouco durável ou rentável.

Molambo – africanismo. Farrapo, andrajo. Molambento: em estado de mendicância. O povo pronuncia sempre com “u”: mulambo, mulambento. É o nome de uma casal de entidades espirituais da linha esquerda: Exu-mulambo e Pomba Gira Maria Mulambo. O ponto cantado diz expressamente: “Tem dó! Tem dó! / Minha roupa é mulambo só...”  

Munheca – 1- pulso; 2- sovina, "garrafinha", "munheca de samambaia", "seguro". Usurário. 

Muque – 1- força física. Pegar no muque: fazer força para carregar ou segurar. 2- O músculo bíceps.

Murrinha –1- mau cheiro referente aos maus hábitos de higiene. “Fulano é murrinhento” (mau cheiroso); 2- chatice, enjoamento, antipatia. “Fulano é uma murrinha!” (chato, indesejável).

Murundu – monte de terra ou entulho; elevação, monturo. Um dos mais conhecidos mitos do ciclo da angústia infantil, o tutu, tem num acalanto a referência expressa: “Dorme, neném! / Tutu vai te pegar... / detrás do murundu / com um pedaço de angu!”. Também se pronuncia “murundum”.

Museu – em sentido pejorativo, coisa velha, traste; pessoa idosa.

Neca de catibiriba – expressão negativa extremada: de jeito algum, jamais, absolutamente nada.

Nem tchum! – expressão que equivale a "nem ligou", "não deu a menor importância", "fez pouco caso de", desdenhou.

Ôh, bala! – interjeição de catarse e admiração: "credo!",  "Sai de mim!"

Pegar o bonde andando – entrar num assunto já iniciado, tirando dele conclusões precipitadas sem saber todas as suas implicações.

Pegar o bonde errado – entrar numa situação pensando equivocadamente que era outra.

Pinta brava – mau elemento, má companhia, sujeito à beira da marginalidade. Indivíduo com tendência a ser um fora da lei.  Brigão, ofensivo.

Piriri – disenteria, diarreia, “caganeira”, "intestino mole".

Quebra-galho – 1- gambiarra, provisório, paliativo; 2- o que não satisfaz plenamente mas vale para atenuar um momento: alimento, dinheiro, roupa...; 3- amante, concubina.

Rasgar o cu com a unha – expressão indicativa de extremo desespero diante de uma situação muito difícil. Ataque de nervos, descontrole emocional, histeria. 

Tantã – de ideias desconexas, de pensamentos desorientados. Doido.

Tempo da(o) zagaia – antigamente, outrora, antanho, pretérito. Referência a um objeto ou situação de muito tempo atrás. “Essa estória é tempo da zagaia...”,“Esta ferramenta é do tempo da zagaia...”

Tempo do onça – idem. Sempre no masculino: do onça (e não da onça.)

Tetéia - gíria em ocaso: linda, graciosa, bonitinha, atraente. Em geral era usada por rapazes para se referir a moças.

Til-til – gíria em ocaso: lindo, gracioso, bonitinho, atraente. Em geral era usada por moças para se referir a rapazes. "Pão", "bicho bom". 

Tio Véio – pessoa relativamente jovem que se comporta com hábitos de pessoa bem mais velha. Bebedor inveterado de café.

Tirar da reta – colocar-se em posição que o isente de culpa; arranjar desculpas e explicações para se livrar de riscos e punições numa dada complicação. "Tirar o cu da reta."

Tirar o pé do atoleiro – se dar bem; melhorar de vida (financeiramente); prosperar nos negócios.

Toco de açougue – depreciativo: pessoa gorda e baixa. "Tarugo"

Toró – temporal, chuva muito forte. “Tribusana”.

Traçar – 1- comer, devorar. “Traçou o bolo”;  2- em sentido chulo, ato sexual: “traçou a filha do vizinho”.

Traficança – bagunça, excesso de objetos inúteis, obsoletos, imprestáveis. Tranqueira. Tralha.

Tragada – dose considerável de uma bebida.  “Tomar uma tragada no balcão.” Talvez corruptela de talagada, que tem o mesmo sentido, já que habitualmente tragada se refere ao hábito de fumar. Tragar o cigarro.

Trambolho – 1- mecanismo grosseiro de trancar portas e janelas, espécie de tramela grande; 2- qualquer engenho ou solução rudimentar para uma estrutura física; 3- pessoa obesa e desajeitada. Feio.

Tremilique – tremura, chilique, faniquito. 

Tribufu – mulher desfeita de corpo, feia, desagradável. “Tribofe”.

Tungar – comer e beber em abundância ou com ímpeto. "Chanfrar"

Um brinco! – expressão indicativa de grande beleza, limpeza, brilho. “Faxinou a casa. Ficou um brinco!”

Uma pinóia! – expressão de veemente negação. De jeito nenhum. O mesmo que “uma ova!”

Vaca que esconde leite – pessoa que não revela o que tem, que esconde capacidade e potencial, ou as posses.

Vai com as batatinhas! – expressão de esconjuro, indicativo do desejo de afastamento. “Vai com Deus e as pulgas!”

Vareta – magricela, magérrimo. "Pau de virar tripa". "Mané magro". " Esqueleto".

Ver passarinho do rabo verde – estar extremamente alegre, agitado, prolixo.

Vetético – termo depreciativo. Idoso de comportamento desagradável, cheio de manias; velho implicante. 

Vivaldino – esperto, sagaz, que tem muita vivacidade. Espertalhão. 

Vivinho da silva – idem.

Xepeiro – que tira proveito do alheio, usurpador.

Xereta – intrometido, enxerido.

XPTO – abreviatura da palavra "Cristo" em grego. Indicativo de boa qualidade: muito bom, bonito, saboroso. Usa-se com o sentido de especial, diferenciado, chique. Almoço XPTO; terno XPTO.

Zebedeu – besta, idiota, imbecil, abestalhado.

Zona – 1- prostíbulo, cabaré; 2- bagunça, desordem, esculhambação.

* Texto: Ulisses Passarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário