Mecanismo de preces e união comunitária
Talvez, o terço seja o mais popular objeto de orações. De tão conhecido possivelmente nem gastaria falar sobre ele. Mas para contextualizar os assuntos desta postagem vale uma pequena referência superficial.
É um objeto de oração feito de uma enfiada de contas num cordão ou arame, equidistantes, fechando um círculo. Dele pende pequena parte, a partir de uma medalha da Virgem Maria, com mais cinco contas extras, terminando num crucifixo. Cada conta representa uma prece: as menores e mais próximas, Ave Marias, totalizando cinqüenta, em cinco grupos de dez (“dezenas do terço”), separadas por contas maiores e/ou mais afastadas, representando os Pai Nosso, cinco ao todo. Após a última Ave Maria se reza um Glória e faz-se invocações, suplicas ou cantos, ou contempla-se um mistério mariano. Mistério é também o conjunto formado pela dezena, Pai Nosso e Glória. O terço tem cinco mistérios. As contas extras são para preces avulsas, à escolha, geralmente, um Credo, três Ave Marias às três pessoas da Santíssima Trindade e uma Salve Rainha, que encerra o terço.
As contas são feitas de vários tamanhos, cores e materiais. O mais tradicional é de contas de lágrimas de Nossa Senhora. Usa-se também madeira, metal, pedra-sabão, plástico, resina, caroço de azeitona, sementes. Brilhantes, opacos, cintilantes, perolados, prateados, aurificados, furta-cor, multicor, rudes, requintados, com micro-estampas... a indústria moderna oferece mil e um modelos.
Algumas vezes é confundido com o rosário, que tem quinze mistérios: cinquenta Ave Marias e quinze Pai Nossos, com as mesmas cinco contas extras, a medalha e o crucifixo. O terço é pois, como indica seu nome, a terça parte do rosário.
Como objeto de orações, deslizando-se o dedo a cada conta numa contagem das orações, uma a uma, lentamente, enquanto se reza, o terço possibilita prece, contemplação e algumas outras possibilidades que abaixo se enumeram:
Foliões de Reis rezam um Terço de Santos Reis com a comunidade e devotos visitantes na Gruta do Divino, em São João del-Rei, Centro. 06/01/2001. |
1- O terço é também um amuleto: pendurado na cabeceira das camas guarda o sono do devoto, para garantir bons sonhos e descanso pacífico. Outrossim é trazido pendurado ao pescoço ou carregado no bolso, para proteção e boa sorte, tanto no cotidiano do homem comum, que vai para a missa dominical, para a praça conversar com os amigos ou para o trabalho, quanto por ocasião das festas populares, compondo a figura do congadeiro, do folião, pendente em bandeiras, bastões e mastros;
2- Terço das Almas: o que é rezado nas segundas-feiras, oferecido em sufrágio das almas. Da mesma sorte existem terços específicos de invocação deste ou daquele santo, consoante rezados em seu dia votivo ou intercalado por suas preces e cantos próprios;
3- Terço das Crianças: pequeno, de contas plásticas, brancas, azuis ou rosas. Correlaciona-se com frequência com as tradições religiosas de matriz africana, nos terreiros, sendo preferido pelos guias de crianças (erês);
4- Terço de Rabo: antigamente, era o nome da última reza que precedia a dança de São Gonçalo, na zona rural de Bias Fortes/MG (*).
5- Terço Bizantino: terço simplificado, de cinqüenta contas unidas e a cruz. Não se contempla mistérios. Reza-se repetindo por dez vezes cinco expressões religiosas, marcando-se a contagem nas contas. Exemplo: “Meu Bom Jesus” (l0 vezes), “Salvador do Mundo” (l0), “Salvai a mim também” (l0) “Fazei-me um bom cristão” (l0) “Dai-me a paz!” (l0). Vê-se congadeiros dançando e foliões cantando com este terço preso ao pulso, sobretudo o direito. Tem sido muito difundido pelos meios midiáticos e talvez a rapidez de sua prática esteja favorecendo sua difusão nesses tempos atuais de pressa para tudo;
6- Terço militar: metálico, em forma de anel, com dez pequenas esferas soldadas (contas) e uma cruzinha. Bem menos difundido nos meios populares que o anterior;
7- Nossa Senhora do Terço: invocação mariana equivalente à de Nossa Senhora do Rosário e por ela infinitamente suplantada. Em São João del-Rei tem sua imagem na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. É uma invocação pouco conhecida e iconograficamente idêntica à do Rosário.
Folia "Embaixada Santa" durante participação na Festa do Livramento, em Prados, notando-se o uso dos terços pedentes ao pescoço. Junho/2009. |
A prática do terço como uma maneira de fazer oração vai muito além de mais uma simples mas respeitosa reza, ou apenas de uma forma de prece. É um mecanismo de sintonia com o sagrado, de louvação.
Existem os terços rezados individualmente, de joelho num banco de igreja ou no silêncio do quarto, como ensinou o Cristo Eterno: "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu pai, que vê nos lugares ocultos, recompensar-te-á" (Mt 6, 6). Mas também existem (e são muito comuns) os terços coletivos, abertos ao público, que reúnem a comunidade e visitantes, diante dos cruzeiros dos largos, nas grutas das praças, nas capelas de roça ou da cidade e até nas igrejas maiores. Pois afinal, também Jesus ensinou a oração em comum: "Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18, 19-20).
Existem os terços rezados individualmente, de joelho num banco de igreja ou no silêncio do quarto, como ensinou o Cristo Eterno: "Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu pai, que vê nos lugares ocultos, recompensar-te-á" (Mt 6, 6). Mas também existem (e são muito comuns) os terços coletivos, abertos ao público, que reúnem a comunidade e visitantes, diante dos cruzeiros dos largos, nas grutas das praças, nas capelas de roça ou da cidade e até nas igrejas maiores. Pois afinal, também Jesus ensinou a oração em comum: "Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18, 19-20).
Notas e Créditos
* Informante: Elvira Andrade de Salles, 1995.
** Texto: Ulisses Passarelli
***Fotos: reza do terço, Ulisses Passarelli; folia na festa, Cida Salles.
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