Outros trabalhos

domingo, 7 de dezembro de 2014

Garapa, o doce caldo da cana

Garapa é o caldo da cana-de-açúcar, riquíssimo em sacarose. É extraída moendo-se o colmo deste vegetal em moendas, em pequenas quantidades para o consumo in natura, ou em quantidades maiores para servir de matéria-prima para a fabricação de etanol, cachaça, melado, açúcar e rapadura. 

As moendas podem ser elétricas, de fabricação industrial (movidas a motor com polias) ou manuais, de fabricação artesanal, que são as que interessam a este blog. Estas são chamadas engenhos (as maiores) ou engenhocas (as menores). 

A garapa é muito usada como bebida refrigerante consumida com temperatura ambiente ou resfriada. O povo a considera uma bebida forte, nutritiva, que fortalece o sangue e a musculatura. Também é misturada à cachaça, como aperitivo. 

Alguns versos populares registram o seu consumo e predileção: 


“O engenho moeu. 
A garapa é minha. 
O bagaço é seu ...” 
(Terceto infantil, Santa Cruz de Minas, 1997). 


Na umbanda a garapa é bebida preferida de muitos Negros Velhos, ofertada em cuias feitas com a metade de um coco-da-baía seco, cabaça ou cuité. Esta oferenda deixou reflexo num canto congadeiro de catupé de São João del-Rei (2005), com duas versões atuais: 


“Ai, eu quebrei coco, 
pra cuia fazê, 
pra levar aguinha, 
pro vovô bebê!” 

“O engenho tá muendo! 
Deixa o engenh’ muê! 
Pra fazê garapa, 
pro vovô bebê!”. 


Na gíria própria, Vovô é sinônimo de Negro Velho, entidade de umbanda. Note ainda o outro eufemismo, "aguinha", por garapa. 

Garapa é ainda uma espécie de árvore leguminosa, Apuleia leiocarpa, da família das fabáceas, usada em marcenaria, caibros, construção civil, soalhos, tacos, postes, carroças, carrocerias, dormentes, vigas, moirões e canoas.
  
Engenho de bolandeira ou engenho de manjarra.
Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei/MG). 

* Texto e foto (1996): Ulisses Passarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário