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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 8

Boca de siri! – expressão usada para indicar necessidade de silêncio, sobretudo ante um segredo. Ato de não dizer nada: "fazer boca de siri".
Cheio de banca – orgulhoso, entojado, repleto de soberba.
Deixar a vaca ir para o brejo – deixar uma situação se complicar e sair do controle. "A vaca foi pro brejo": o caso caminhou para um fracasso.
É fria! – interjeição de negação, já em desuso: jamais! Nunca! Eu, não!
Encher o rabo – beber demais, embriagar-se. “Encheu o rabo de pinga”.
Escreveu, não leu, pau comeu! – expressão que equivale a: o aviso foi dado, você não entendeu, agora aguente as consequências.
Estar comendo o gambá errado – expressão indicativa que uma dada suspeita recai sobre a pessoa errada, inocente no caso em questão.
Fazer de bobo para viver – fingir-se de desentendido para se livrar de complicações e polêmicas.
Gambiarra – literalmente, ação de improviso, atitude provisória para sanar uma situação: "o encanamento estava fazendo fiz uma gambiarra". Por extensão, dizem os homens, pejorativamente, acerca de aventuras amorosas fora do casamento: "arrumar uma gambiarra" – ter uma concubina.
Guéri-guéri – frescura, rituais desnecessários ao cotidiano da vida. Indivíduo cerimonioso: "ele é cheio de guéri-guéri".
Ideia de girico – pensamento fraco, ideia ruim, solução nada prática.
Mamão com açúcar – situação muito favorável, caso de fácil solução, serviço excelente. Este trabalho é mamão com açúcar.
Maniento – cheio de manias, xexelento, com hábitos desnecessários, complicadores do fluir natural da vida.
Marmota – feio, atrapalhado, de mau gosto, mau vestido, extravagante. "Fazer marmotagem": fazer algo fora do padrão social.
Meganha – policial. Termo  pejorativo.
Melzinho na chupeta – sinônimo de mamão com açúcar.
Meter a boca no trombone – denunciar uma situação, contar um segredo a muitas pessoas. “Falar aos quatro ventos”.
Meter a língua nos dentes – idem.
Morgado – envergado, curvado, flexionado.
Muito fogo para pouca lenha – muito entusiasmo para pouco benefício a se alcançar. Empolgação excessiva.
Ôh, bala! - interjeição intensificadora de uma negação indignada: de forma alguma! Jamais! Nunca! Eu, heim...! Quero não!
Pegar o bonde andando – saber parcialmente de uma situação e já emitir opinião sobre ela, caindo num equívoco.
Pegar o bonde errado – entrar numa situação que não era a que se pensava ser.
Pinta brava – mau elemento, marginal, fora da lei, brigão, encrenqueiro, valentão.
Quebra-galho – gambiarra; improviso; serviço informal; uma ajuda qualquer que não supre todas as necessidades.  
Rasgar o cu com a unha – entrar em extremo desespero. Descontrole, crise nervosa, histeria.
Tempo da(o) zagaia – antigamente, passado remoto. 
Tempo do onça – idem.
Tio Velho – pessoa que bebe muito café, ou que se comporta como um idoso à moda antiga: “Êh, ti’ véio, já tá co’o caneco de café na mão...”
Tirar o cu da reta – livrar-se de culpa numa situação embaraçosa. Fazer de tudo para culpar outro se mostrando inocente.
Tirar o pé do atoleiro -  melhorar de vida, subir financeiramente, rápido crescimento econômico.
Toró – temporal, chuva intensa. "Caiu um toró". "Tribusana".
Traçar – além do sentido literal do verbo (riscar um traço, tracejar), tornou-se um termo deselegante para indicar o ato de comer, alimentar-se, no geral no sentido de gula: “num minuto traçou o pão”. Tem também o sentido de ato sexual: “traçou a filha do compadre” (manteve relação sexual com ela).
Traficança – bagunça, amontoado de coisas, trastes, bugigangas, “coisêra” (muita coisa). “Carregar a traficança”: mudar de residência. “Juntar a traficança”: passar a morar junto com alguém.
Tragada – 1- fumar com força, puxando fortemente por sucção o cigarro. "Dar uma tragada". 2- gole, dose considerável de bebida alcoólica: "tomar uma tragada de conhaque".
Trambolho – literalmente espécie de grande trava de madeira, para segurança de janelas e portas, maior que a tramela, muito usada na zona rural. Por extensão, qualquer mecanismo espalhafatoso, sem delicadeza, mau planejado, grosseiro, engenho ruim. Pode ainda de forma ofensiva ser aplicado a mulheres cujo padrão de beleza não seja atrativo sob hipótese alguma para os homens.  
Tremilique – tremura, tremor: “ ‘tava com febre forte, começou tremilicar”. Desequilíbrio psicológico: “ficou lá xingando, dando tremilique”.
Um brinco! – expressão com o sentido de perfeição; uma beleza!
Uma pinóia! – expressão de reprovação; negativa. Indicativo de não se aceitar uma situação. “_ Vou embora... _ Vai uma pinóia!”
Vaca que esconde leite – pessoa que, por cautela, não revela suas capacidades, potenciais ou poder econômico.
Vai com as batatinhas! – expressão de esconjuro. Expurgo. “Graças a Deus a visita foi embora... vai com as batatinhas!”
Vareta – magrelo, magricela, magérrimo.
Ver passarinho do rabo verde – mostrar-se muito alegre. Estar aparentemente muito feliz. Indicativo de assanhamento.
Vetético – pejorativo: velhote, velho espertalhão, idoso sagaz, pessoa na terceira idade que se comporta com atitudes imaturas.
Vivaldino – vivaz, sagaz, esperto, que trama situação nas quais lucrará.
Vivinho da silva – expressão intensificadora: muito vivo, com vivacidade. Usada também para indicar o reaparecimento de alguém: “estava sumido, pensei que tinha morrido. Nada! Tá vivinho da silva.”
Xepeiro – aquele que tem o hábito de xepar: usurpador, que se aproveita do esforço alheio, que vive às custas de outrem, que se alimenta em casa dos outros com frequência.
Xereta – especulador; aquele que quer saber detalhes da vida alheia; quem muito pergunta. Xeretar: intrometer-se.
XPTO – ótimo, excelente, maravilhoso, delicioso. “O almoço está XPTO”. XPTO é a abreviatura da palavra “Cristo”, em grego.
Zona – 1- bagunça, desordem, caos. 2- prostíbulo. 
Zurra – uso excessivo, sem cuidados de manutenção. “Carro novinho, já tá na zurra ...”

* Texto: Ulisses Passarelli

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