Movidos pelo espírito da saudade e imbuídos por uma tradição ancestral, os cristãos rumam hoje para os cemitérios. Entre preces, flores e chamas de velas, marcam simbolicamente o elo que ainda os conecta àqueles que partiram da vida carnal.
Não é uma visita corriqueira. Finados é diferente. A dois de novembro o campo santo está mais bem cuidado, os túmulos menos poeirentos, os entremeios sem mato invasor. Todos se movem pela mesma esperança, aquela fé na ressurreição, a crença do reencontro futuro. Alguns acreditam mesmo que os mortos tem um licença especial nesse dia e suas almas podem então voltar à Terra aguardando junto às sepulturas a visita dos familiares, parentes, amigos, amados. Neste momento podem se reencontrar por meio das orações. Concentrando o pensamento neles, sentimos sua presença de forma indescritível, intangível ...
Em São João del-Rei o povo acorre para o Carmo, com seu tenebroso portão de ferro, obra genial do Mestre Jesuíno José Ferreira; para o cemitério de São Francisco de Assis, onde o túmulo do ex-Presidente da República Tancredo Neves é muito respeitado e visitadíssimo; para São Gonçalo Garcia, São José Operário, Rosário, Almas (ou da Fábrica ou, ainda, da Matriz), Mercês. Tudo nome de santo patrono. Só o Municipal não tem nome santo. É laico do ponto de vista administrativo. Quicumbi é como lhe chamam, evocando esquecidas vozes africanas. Lá está a Jovem Desconhecida, o túmulo mais visitado da cidade, milagreira popular, lotada de lumes ardendo no velório fronteiriço e de um jardim de flores artificiais sobre a lápide. No Quicumbi o povo fervilha em rezas.
Dia de Finados é o dia da reflexão, que se pára o corre-corre cotidiano para reencontrar a espiritualidade. Reencontro e projeção, mortos e vivos se irmanam num momento tênue.
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Portão do Cemitério do Carmo. São João del-Rei/MG. |
Créditos
- Texto e fotografia (2014): Ulisses Passarelli.
Notas
- Leia mais a respeito em:
- Revisão: 26/05/2025.
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