É de entendimento genérico que as saias são elementos do vestuário feminino. Contudo, nos meios folclóricos, dançantes masculinos de certos folguedos as adotam sem restrição como parte do uniforme, em geral, vestidas por cima das calças. São via de regra conhecidas por sainha ou saiote.
Estas saias ora são brancas mas quase sempre tem colorido vivaz, em cor única para o mesmo grupo, ou multicolorida; plissada ou lisa, rendilhada ou apenas com bicos de renda nas bordas, por vezes com um ziguezague de fitas de cor em destaque, outras vezes ainda com apliques florais, agalonada e de babados ou franjas.
Pela imensa região Nordeste do país os grupos de congos tradicionais usam grandes saiotes armados sobre aros escondidos sob o pano, dando uma intensa armação ao conjunto. Foram muito típicas nos grupos do Rio Grande do Norte, a ponto de surgir a designação "congos de saiote", hoje desaparecidos ante os congos de calças e "calçolas" (calções). Os saiotes dos congos ainda tem uso recente nos congos de Oeiras/PI, Pombal/PB, Cairu/BA, dentre outros.
Em Minas Gerais, vários grupos de congados tem por característica o uso dessas saias. Em geral são curtas, a nível da coxa ou do joelho, mas existem exceções, como mostra a foto abaixo, gentilmente cedida para reprodução pelo capitão desta guarda de moçambique da cidade de Passos, sr. Feliciano Batista da Silva.
Uma lenda informada em São João del-Rei, aliás, muito conhecida entre os congadeiros, relata a origem dos congados. Numa das múltiplas versões, refere-se claramente ao uso dos saiotes (*):
"Nossa Senhora do Rosário apareceu numa gruta. Isso foi no sertão, no tempo dos antigos. O povo achou a imagem e fizeram uma procissão. Levaram ela para uma capela, mas no outro dia, quando voltaram lá ela tinha sumido. Acharam de novo lá na gruta. Aí os negros foram dançando congo buscar ela mas ela não acompanhou por causa que eles usavam sainha, roupa de carnaval. Então foram os negros velhos, tudo simples, com roupa de saco alvejado dançando para ela o moçambique. Aí a santa agradou e subiu no andor. Levaram ela para a igreja e os congos foram atrás acompanhando mas não entraram por causa da sainha colorida. Nossa Senhora ficou lá no altar e não saiu mais."
Fica claro a concepção dos saiotes atribuídos aos grupos de congos e não aos moçambiques. Na prática porém vários grupos moçambiqueiros as usam.
Uma explicação interessante ouvi de informantes congadeiros em Contagem: o congo com a sainha faz um movimento de limpeza ou varredura do caminho por onde passará o moçambique com o reinado. O movimento dos dançantes na fila do folguedo faz a saia balançar ritmadamente, o que é interpretado como uma ação de varrer (vide nesta postagem o grupo de Piracema, como ilustrativo do referido movimento). O congo retira os males para o moçambique passar.
Numa fotografia da década de 1960 que dispomos, tirada em São João del-Rei, aparece um catupé com os saiotes, fato incomum. Próximo daqui, na Restinga (Ritápolis - 1996) e no Cajuru (Resende Costa - 1987), vimos os dançantes de catupé amarrarem na cintura um grande lenço estampado imitando saia. Frise-se que nesta região estes folguedos não usam saiotes, mas noutra área mineira, no Serro, o empregam. Nos congados de Barroso, Piedade do Rio Grande e Ibertioga, há também uso de saias fingidas ou aventais, feitas com longos panos alvos, com artísticos bordados em pontos de cruz e acabamento em abrolhos. Tais aventais também foram registrados no moçambique gaúcho da cidade de Osório.
Os saiotes aparecem também nalgumas marujadas como em Diamantina e São Gonçalo do Rio Preto.
Seja como for, os saiotes representam elementos muito típicos das fardas congadeiras, notavelmente das guardas de congo e para melhor exemplificar os estilos, as fotografias abaixo mostram grupos mineiros bem representativos.
Estas saias ora são brancas mas quase sempre tem colorido vivaz, em cor única para o mesmo grupo, ou multicolorida; plissada ou lisa, rendilhada ou apenas com bicos de renda nas bordas, por vezes com um ziguezague de fitas de cor em destaque, outras vezes ainda com apliques florais, agalonada e de babados ou franjas.
Pela imensa região Nordeste do país os grupos de congos tradicionais usam grandes saiotes armados sobre aros escondidos sob o pano, dando uma intensa armação ao conjunto. Foram muito típicas nos grupos do Rio Grande do Norte, a ponto de surgir a designação "congos de saiote", hoje desaparecidos ante os congos de calças e "calçolas" (calções). Os saiotes dos congos ainda tem uso recente nos congos de Oeiras/PI, Pombal/PB, Cairu/BA, dentre outros.
Em Minas Gerais, vários grupos de congados tem por característica o uso dessas saias. Em geral são curtas, a nível da coxa ou do joelho, mas existem exceções, como mostra a foto abaixo, gentilmente cedida para reprodução pelo capitão desta guarda de moçambique da cidade de Passos, sr. Feliciano Batista da Silva.
Moçambique, Passos/MG. Autor e data não identificados. |
Uma lenda informada em São João del-Rei, aliás, muito conhecida entre os congadeiros, relata a origem dos congados. Numa das múltiplas versões, refere-se claramente ao uso dos saiotes (*):
"Nossa Senhora do Rosário apareceu numa gruta. Isso foi no sertão, no tempo dos antigos. O povo achou a imagem e fizeram uma procissão. Levaram ela para uma capela, mas no outro dia, quando voltaram lá ela tinha sumido. Acharam de novo lá na gruta. Aí os negros foram dançando congo buscar ela mas ela não acompanhou por causa que eles usavam sainha, roupa de carnaval. Então foram os negros velhos, tudo simples, com roupa de saco alvejado dançando para ela o moçambique. Aí a santa agradou e subiu no andor. Levaram ela para a igreja e os congos foram atrás acompanhando mas não entraram por causa da sainha colorida. Nossa Senhora ficou lá no altar e não saiu mais."
Fica claro a concepção dos saiotes atribuídos aos grupos de congos e não aos moçambiques. Na prática porém vários grupos moçambiqueiros as usam.
Uma explicação interessante ouvi de informantes congadeiros em Contagem: o congo com a sainha faz um movimento de limpeza ou varredura do caminho por onde passará o moçambique com o reinado. O movimento dos dançantes na fila do folguedo faz a saia balançar ritmadamente, o que é interpretado como uma ação de varrer (vide nesta postagem o grupo de Piracema, como ilustrativo do referido movimento). O congo retira os males para o moçambique passar.
Numa fotografia da década de 1960 que dispomos, tirada em São João del-Rei, aparece um catupé com os saiotes, fato incomum. Próximo daqui, na Restinga (Ritápolis - 1996) e no Cajuru (Resende Costa - 1987), vimos os dançantes de catupé amarrarem na cintura um grande lenço estampado imitando saia. Frise-se que nesta região estes folguedos não usam saiotes, mas noutra área mineira, no Serro, o empregam. Nos congados de Barroso, Piedade do Rio Grande e Ibertioga, há também uso de saias fingidas ou aventais, feitas com longos panos alvos, com artísticos bordados em pontos de cruz e acabamento em abrolhos. Tais aventais também foram registrados no moçambique gaúcho da cidade de Osório.
Os saiotes aparecem também nalgumas marujadas como em Diamantina e São Gonçalo do Rio Preto.
Seja como for, os saiotes representam elementos muito típicos das fardas congadeiras, notavelmente das guardas de congo e para melhor exemplificar os estilos, as fotografias abaixo mostram grupos mineiros bem representativos.
Congo, Brás Pires/MG, 09/01/2010. |
Congo, Contagem/MG, 21/10/2014. |
Congo, Piracema/MG, 01/11/1998. |
Congo, Piranga/MG, 09/01/2010. |
Congo, Rancho Novo (Conselheiro Lafaiete/MG), 18/07/1999. |
Congo, Rio Piracicaba/MG, 09/01/2010. |
Congo, São Gonçalo do Rio Abaixo/MG, 09/01/2010. |
Congo, São Miguel do Anta/MG, 09/01/2010. |
Congo, Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei/MG), 15/11/1998. |
Congo, São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG), 13/10/2013. |
Notas e Créditos
* Informante: Capitão de Catupé, sr.José Camilo da Silva (1992)
** Texto e fotos: Ulisses Passarelli
*** Foto de S.Gonçalo do Amarante: Iago C.S. Passarelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário