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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Na minha terra se fala assim - parte 5

Cabeça de Bagre – Pessoa com ideias ruins, imbecil.
Cabeça de nós todos – indivíduo de cabeça desproporcionalmente grande; cabeção, cabeçorra.
Cabeçudo – 1- de cabeça grande; 2 - teimoso.
Cachola – Cabeça, no contexto de fonte da inteligência, raciocínio, reflexão. Por a cachola para trabalhar = pensar.
Cachorrético – em estado crítico, extremo, de grande miséria ou dificuldade. Situação cachorrética.
Cafundó do judas – 1- lugar indefinido; 2- lugar muito longe, ermo, de acesso difícil.
Cagão – diz-se de quem tem muito medo; medroso.
Caiau – velho, acabado, mal conservado. Possível corruptela de calhau mas não tem o sentido de pedra. O carro dele é um caiau danado...
Cambeta – o mesmo que zambeta: manco, coxo, que balança por falta de estabilidade e calço, o que maquitola.
Cambito – 1- peça de madeira componente da arreata de animais de carga, própria para carregar feixes de lenha, cana ou capim; 2- por analogia, fino, alongado, discanelado.
Camisa de sete varas – cilada, armadilha, situação embaraçosa, caso difícil de se desvencilhar. Entrou numa camisa de sete varas.
Candonga – africanismo: intriga, fofoca, mexerico, disse-me-disse. Nome de um povoado de Tiradentes/MG, junto á Serra de São José, no limite com Santa Cruz de Minas ao longo da Estrada Real.
Catapumba! – interjeição indicativa do som de um tombo, queda no chão.
Catatau – pequeno, nanico, miúdo, raquítico.
Cegueta – o que enxerga pouco sem ser exatamente cego.
Chanfrar – por analogia a cortar em chanfro, diz-se de cortar um pedaço grande de algo para comer. Chanfrou = comeu. Chegou com fome, chanfrou a marmita.
Changuana – diluído, ralo, pouco concentrado, água de batata. O café ficou uma changuana.
Chantecler – de fino sabor, bom, de bom gosto.
Chapuletada – porção ou dose grande. Bebeu uma chapuletada de pinga para rebater a friagem. Chapuleta = grande. Pescou um chapuleta de piau.
Chorar de barriga cheia – reclamar sem razão estando beneficiado pela circunstância. Resmungar mesmo quando a situação lhe está favorável.
Chouriço amarrado – pejorativo: pessoa obesa que usa roupas justas. Gordo com cinto apertado.
Chuchu – gíria em desuso: bonito, atraente, chuchuzinho, chuchu de iaiá.
Chupar-olho – tirar vantagem desmedida num negócio, alcançar grande lucro em prejuízo de outrem, desonestidade numa transação de venda, aluguel ou troca.
Cocota – gíria em desuso: bonita, atraente, cocotinha. Moça.
Embancar – sentar num banco, abancar.
Empachado – cheio, farto. Ficou empachado depois do almoço.
Empombar – criar caso, arranjar confusão, buscar contenda.
Encalacrado – endividado, em dificuldades.
Enfiar a viola no saco – ficar sem argumentos; calar-se ante uma verdade que lhe atinge sem possibilidade de recurso verbal.
Enfurruscado – de aspecto sombrio, nebuloso, fechado. Tempo enfurruscado = dia chuvoso.
Entrão – quem entra sem pedir licença, sem ser convidado.
Entrar numa canoa furada – enveredar-se numa situação embaraçosa que aparentava ser boa.
Estar no cu do seu Estevão – estar em grande dificuldade. Situação extremada. Variante: "cu do Zé Esteves".
Falo do corpo, não da alma – expressão de pudor e eufemismo, usada para anteceder a uma crítica que se faz a alguém que já morreu.
Família de sacatrapo – família de hábitos exdrúxulos, fora do padrão de comportamento social.
Favas contadas – coisa certa, previsível, resultado tido como certo antes de acontecer, garantido.
Ficar coelho – ficar esperto, ter sagacidade, tornar-se alerta.
Fidazunha – “filho das unhas”, desgraçado, vil, maldito, indesejável.
Filhote de curro-curro – sujeito feio, de má aparência, desajeitado.
Filhote de urutau – idem.
Firula – manha, frescura, subterfúgio.
Frangote – “franguinho”. Jovem atraente, rapaz bem novo, adolescente, rapazola, rapazote. Gíria em ocaso.
Franguinha – idem com referência ao sexo feminino.
Fuçador – que se envolve em diversos assuntos e os resolve; fuçado.
Fuça-fuça – que remexe em tudo, que revolve os guardados domésticos; curioso.
Fulo(a) – com muita raiva, irado, nervoso. Termo que em sua origem alude a uma etnia africana escravizada no novo mundo que conservava um espírito indócil, rebelde à servidão.
Fuzuê – confusão, balbúrdia, algaravia, tumulto.
Gata (o) – gíria indicativa de atração física: bonito (a), de boa aparência, atraente ao namoro.
Gato pingado – parco. Diz-se de uma pequena assistência: no espetáculo só tinha uns gatos pingados. O que é pouco.
Geléia de jalapa - moleirão, palerma, lapardão, indivíduo submisso, sem atitudes, sem pulso firme.
Goiaba – interjeição usada pelos meninos ao soltar pipas, gritada à distância para o rival ao cortar a sua pipa com cerol.
Gororoba – o mesmo sentido de grude 2.
Gralha – 1- pejorativo: irmã de caridade, alusão ao padrão de cores do hábito comparado à plumagem das gralhas (aves corvídeas); 2- pessoa que fala muito e em alto tom, em comparação às aves citadas, cuja vocalização é um grito alto e frequente.
Grude – 1- cola ordinária, caseira feita ao fogo numa lata onde se mistura intensamente polvilho azedo molhado até o ponto de se tornar uma cola tosca; 2 – por analogia qualquer substância viscosa; aquilo que cola, gruda. Alimento ruim, de consistência grosseira, não apetecível.  
Impistiado – empestiado. 1- Agitado, traquinas, levado da breca. Menino impistiado; 2- com peste, contaminado, doente, afetado, infeccionado, acometido por um mal físico.
Lágrima de crocodilo – indicativo de falsidade de sentimentos. Diz-se de quem simula tristeza e piedade.
Lapardão – moleirão, sem atividade, indivíduo inerte ante as pelejas da vida.

* Texto: Ulisses Passarelli

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