Um boi pastava numa baixada. Enquanto isto, o gavião pousou no alto do galho e de lá desceu até o lombo do boi para catar carrapatos e bernes. Cata daqui, bica dali, o rapineiro tirava os parasitas do couro. No meio da grama tinha um sapo e o boi sem avistá-lo, pisou em cima dele. O sapo ficou chatinho com o peso e os olhos estatalados. O gavião perguntou:
Sapo-cachorrinho (Physalaemus cuvieri). Leptodactilidae. Serra de São José, Tiradentes/MG. |
_ Uai, sapo, o quê que você está fazendo aí?
_ Tô apiando esse boi ... respondeu orgulhoso, fingindo uma força que não tinha.
_ E você lá tem força pra isso?!
_ Justamente.
_ E você lá tem força pra isso?!
_ Justamente.
Nisso o boi mudou a mão de lugar e soltou o sapo, todo amassado. O gavião olhou bem para ele e falou:
_ Quer saber de uma coisa? Não vou catar carrapato nesse boi mais não. Eu vou é comer você ...
E de um voo rasante e ligeiro meteu as garras no sapo e carregou ele pelos ares.
Numa moita de capim logo adiante estava a mulher do sapo. Olhou para cima, viu o gavião passando com o almoço preso nos pés. Gritou:
_ ôh, marido! Aonde você vai?
_ Eu não vou, ele é que me leva...
_ Você volta aqui na terra?
_ Só se for cuspido ou escarrado, que eu tô com sete unha no ouvido encravado ...
Sapo-bode (Thoropa miliaris). Leptodactilidae. Serra de São José, Santa Cruz de Minas/MG. |
Notas e Créditos
* Texto e fotos: Ulisses Passarelli
** Informante: Júlio Prudente de Oliveira, 1996, Santa Rita do Ibitipoca/MG.
*** Apiar, apiando: levantando, erguendo. Estatalado: arregalado, esbugalhado, saliente. Mulher do sapo: expressão vulgar para se referir à rã (conferir em: Os bratáquios no folclore)
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