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sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Gavião e o Sapo

Um boi pastava numa baixada. Enquanto isto, o gavião pousou no alto do galho e de lá desceu até o lombo do boi para catar carrapatos e bernes. Cata daqui, bica dali, o rapineiro tirava os parasitas do couro. No meio da grama tinha um sapo e o boi sem avistá-lo, pisou em cima dele. O sapo ficou chatinho com o peso e os olhos estatalados. O gavião perguntou: 

Sapo-cachorrinho (Physalaemus cuvieri).
Leptodactilidae. Serra de São José, Tiradentes/MG.
_ Uai, sapo, o quê que você está fazendo aí?
_ Tô apiando esse boi ... respondeu orgulhoso, fingindo uma força que não tinha.
_ E você lá tem força pra isso?!
_ Justamente. 

Nisso o boi mudou a mão de lugar e soltou o sapo, todo amassado. O gavião olhou bem para ele e falou: 

_ Quer saber de uma coisa? Não vou catar carrapato nesse boi mais não. Eu vou é comer você ...

E de um voo rasante e ligeiro meteu as garras no sapo e carregou ele pelos ares. 

Numa moita de capim logo adiante estava a mulher do sapo. Olhou para cima, viu o gavião passando com o almoço preso nos pés. Gritou: 

_ ôh, marido! Aonde você vai?
_ Eu não vou, ele é que me leva... 
_ Você volta aqui na terra?
_ Só se for cuspido ou escarrado, que eu tô com sete unha no ouvido encravado ...

Sapo-bode (Thoropa miliaris). Leptodactilidae. Serra de São José, Santa Cruz de Minas/MG.
Notas e Créditos

* Texto e fotos: Ulisses Passarelli
** Informante: Júlio Prudente de Oliveira, 1996, Santa Rita do Ibitipoca/MG.
*** Apiar, apiando: levantando, erguendo. Estatalado: arregalado, esbugalhado, saliente. Mulher do sapo: expressão vulgar para se referir à rã (conferir em: Os bratáquios no folclore)

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