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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Chicotes


Os chicotes (termo usado neste texto em sentido genérico) observados na região de São João del-Rei, tem por matéria-prima couro cru e madeira. São peças de confecção totalmente artesanal. O relho ou tala de porte pequeno chama-se "piraí". Além de serem ferramentas de trabalho de pastorícia, usados por boiadeiros, tropeiros, carroceiros e charreteiros, funcionam como objetos de firmeza espiritual nos terreiros de matriz religiosa afro-brasileira, simbolizando e evocando forças e radiação do "Povo da Campina" (Linha dos Boiadeiros). 

Neste sentido, um modelo especial é o "relho de verga", feito com um pênis de touro, escarneado após abate para consumo da carne bovina, limpo do ligamentos. Os dois extremos são esticados, fixados a prego numa tábua e assim posto ao sol por duas semanas. Seco, é então raspado à lâmina de faca e furado para trespassar a tira de couro. É considerado uma peça que oferece grande firmeza ao dono, fazendo-o por analogia forte como um touro. Crenças desta estirpe se perdem na vastidão dos tempos. Naturalmente se prendem à ancestralidade humana. 

Eram objetos odiosos no passado pelos maus tratos infringidos a outras pessoas e animais de carga e montaria. O uso dos chicotes hoje baseia-se mais no respeito ao objeto que na agressão: o animal habitualmente obedece aos comandos apenas verbais ou ao estalo do chicote, na calçada ou na madeira lateral da carroça sem necessidade de bater-lhe.

Alguns modelos de chicotes observados em Santa Cruz de Minas e São João del-Rei:
da esquerda para a direita - rabo de tatu, rebenque, tala, caipira, rêlho e chibata. 
Desenhos a mão livre, sem escala, em caneta esferográfica sobre papel-ofício. 

Relho de verga, São João del-Rei. 

Créditos

Texto, desenho (2013) e fotografia (2000): Ulisses Passarelli. 

Notas

Revisão: 31/03/2025. 

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