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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Na Minha Terra se Fala assim - parte 2

Dando prosseguimento ao registro de parte de nosso vocabulário típico em São João del-Rei e arredores, selecionamos algumas expressões e palavras com breve elucidação do significado.

Neste pequeno conjunto foi privilegiado a fala do homem rural, notadamente os dizeres que se costuma ouvir quando comentam sobre seus negócio de compra ou troca de terra e animais, nas festas de padroeiro, nos leilões, praças de gado, no dia a dia enfim, não obstante o êxodo rural tenha introduzido esse falar nas cidades, o que é fato. Constitui um fato cultural da maior importância que enriquece o nosso regionalismo.

Aguardem edições de novos números de continuação deste post.

* * *

- Amarilinho: amarelozinho.
- Apirmiti: permitir.
- Azulinho: azulzinho.
- Barrufo: jato de água borrifado sobre as verduras da horta.
- Batuta: esperto, perspicaz, de mente muito ativa. 
- Bater na cangaia pro burro intendê: falar o defeito ou erro de e para alguém quase que de forma explícita, senão mesmo grosseira, pois se está fazendo de desentendido ou de fato ignorante.
- Berganha: ou barganha – troca.  Berganhista: quem habitualmente negocia via trocas.
- Birosca: bar de má qualidade; estabelecimento comercial ruim. 
- Cara de cachorro que peidou na porta da igreja: pejorativo para indicar grande constrangimento.
- Chuchá a onça com vara curta: provocar alguém muito nervoso ou poderoso sem medir as consequências.
- Correr cutia: desistir de um negócio já firmado em palavra. Nos meios populares é considerada uma atitude vil. Cutiêro: quem costuma correr cutia nos negócios; desistente de uma barganha ou venda já acertada.
- Dar manta: obter por um objeto em venda ou troca, um valor superior ao que de fato vale. Não é considerado pelo homem do povo índice de desonestidade mas sim de esperteza e sabedoria.
- Dar na telha: fixar-se num idéia; prender-se a um conceito; tomar uma atitude repentina, inesperada.
- Desceu a catana: bateu, no sentido de agressão física; dar um golpe corporal
- Discanelado: de pernas alongadas
- Fazer negócio de orêia: troca de objetos ou bens sem retorno em dinheiro ou qualquer outra coisa, apenas o valor de um pelo valor do outro.
- Foi tintiano: foi pelejando, tentando.
- Futrica: mexerico, intriga.
- Invisionêra: pessoa ambiciosa e invejosa.
- Língua de trapo: pessoa que faz intrigas, fuxiqueiro.
- Lusco-fusco: penumbra, ambiente mal iluminado, crepúsculo ou aurora. 
- Malungo: africanismo que significa companheiro. É comum a corruptela “marungo”.
- Meia pedra, meio tijolo: expressão que indica status intermediário, mais ou menos. 
- Mutungo: ou matungo – cavalo velho. Gíria cigana incorporada ao vocabulário do homem rural.
- Não fui eu que joguei pedra na igreja: expressão usada para indicar sofrimento pessoal.
-Não fui eu que matou meu pai na forca (ou: a soco): idem.
- Onde o Judas perdeu as botas: lugar muito longe.
- Onde o vento faz a curva: idem.
- Panguá: idiota.
- Pé de boi: pessoa que sustenta uma situação, lutando com todas suas forças para que dê certo. Indivíduo esforçado, trabalhador. Esteio de família.
- P'rigoso: perigoso.
- Repassar: passar algo adquirido em negócio adiante em outro negócio. Renegociar. Dispor de um bem. Outro sentido: experimentar uma montaria nova, sentir como o animal pode ser cavalgado.
- Ruão: pelagem ruiva bem forte, acobreada.
- Russo: aloirado ou arruivado como coloração de cabelo ou pelagem. Pode ser também designativo de uma situação ruim, difícil: “está russo!”
- Sêcorro!: socorro!
- Tampô duê: começou a doer.
- Tirar o orvalho do queixo: golo de pinga ou café que se toma em jejum.
- Traquinagem: molecagem, brincadeira de criança, “fazer arte”, aprontar algo por ser levado, traquina, zombeteiro.

Leilão de gado. Festa de São Vicente de Paulo e Nossa Senhora do Carmo, povoado do Fé, São João del-Rei/MG, 2012. 

* Texto: Ulisses Passarelli
* Foto: Iago C.S. Passarelli

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