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sábado, 30 de novembro de 2013

Ibitutinga

Nos limites de São João del-Rei, a cerca de 10 km da cidade, pela margem esquerda do Rio das Mortes, no distrito de São Gonçalo do Amarante, a pequenina Ibitutinga é uma povoação hoje esquecida mas que no passado teve suas atividades bem mais vivas. 

Anúncio jornalístico de um laticínio em Ibitutinga.

Plantada ao longo do velho caminho colonial que rumava a noroeste, pela Picada de Goiás, antecede imediatamente o ex-distrito são-joanense de Santa Rita do Rio Abaixo, cidade de Ritápolis desde 1962. Também fica entremeada no caminho que vem do Pombal, local de nascimento do ilustre são-joanense, Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono Cívico da Nação Brasileira, e a extinta capela setecentista de São Sebastião do Rio Abaixo, onde o mesmo foi batizado. 

Seu nome de origem indígena, evocando vozes tupis, é a junção de dois vocábulos que bem se poderia traduzir por "serra branca", lembrando a visão acinzentada de seu relevo ao longe. É um contraponto a "Ibituruna", a "serra negra", cidade mais abaixo beirando o mesmo rio.

Gozou esta humilde comunidade rural de uma evolução quando foi agraciada pela construção de uma estação do "Trenzinho do Sertão", bitola 0,76cm, plantada a 842 m de altitude, no km 116,9 da linha tronco da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Foi inaugurada a 20/01/1887. 

Uma lista parcial de lançamento de tributos para Ibitutinga
mostra a quantidade de moradores que possuía noutros tempos.

A "maria fumaça" impulsionou a vida local, fortalecendo o fluxo de pessoas e produtos, por quase um século. A malfadada erradicação dos trilhos em 1983 foi um golpe mortal na economia local, que se estagnou. A velha estação e um conjunto de casas 600 metros em direção à montante do rio (Casas das Turmas, Casa do Trolley e a plataforma arrimada de pedra) constituem um importante conjunto arquitetônico que aguarda uma ação conservacionista. 


A desativada estação de Ibitutinga. Agosto/2004. 

O Correio divulgou em primeira página a lista de candidatos às eleições municipais de 1936, pelo Partido Progressista, figurando entre eles para o cargo de Juiz de Paz, para servir a Ibitutinga, Benedicto José de Oliveira, João Luiz da Silva, José Francisco de Rezende e Sebastião Justino dos Santos.

Sabemos que a luz elétrica foi autorizada pela resolução municipal nº29, de 1937. No ano seguinte ela foi inaugurada neste povoado, segundo informação do jornal são-joanense Diário do Comércio:

"A inauguração da luz elétrica no distrito de Ibitutinga foi realizado ás 18, 30 horas. Ao ato estiveram presentes o sr. Governador, representado pelo Cel. Cancio e o sr. Prefeito Municipal." 

A escolinha local foi inaugurada com grande entusiasmo a 1º de setembro de 1926, nos dá conta outro antigo jornal de São João del-Rei, A Tribuna na edição de nº787. Segundo notícia veiculada por seu inspetor, Polycarpo de Almeida, era uma escola mista, com 61 alunos matriculados, sob os cuidados da professora Aurora Francisca dos Santos.

Notícias sobre a inauguração da escola de Ibitutinga.
A igrejinha do lugar, sob o orago salesiano de São Domingos Sávio, já sediou outrora uma festa dedicada ao rosário de Maria. Assim disse A Tribuna, em 1926: 

Capela de São Domingos Sávio, Ibitutinga. Agosto / 2004. 

"Tomando parte na festa do Rosário, esteve durante três dias em Ibitutinga, o rev. sacerdote catholico padre José Rosa. 
O vigario de Mineiros officiou naquella localidade, cujo povo accorreu em peso á egreja para assistir aos actos do culto. 
Terminando as ceremonias, os habitantes de Ibitutinga não queriam consentir a partida do rev. padre José Rosa, que se fez lá eximar grandemente pelas suas apreciaveis qualidades de virtude e inteligencia. 
Com muito custo, conseguiu o digno pastor de almas regressar a esta urbe, deixando fundas saudades naquele arraial. Consignando este honroso facto, endereçamos ao rev. Padre José Rosa os nossos respeitosos cumprimentos." 

Notícias jornalísticas sobre a Festa do Rosário em Ibitutinga, citadas neste texto.

Se o texto em si não informa nada sobre o conteúdo da festividade, por outro lado é revelador da hospitalidade dos seus moradores e ainda, do fervor do catolicismo, características da vida social da época abordada.

Até 1937 o povoado teve em funcionamento uma conferência vicentina, absorvida pela de São Gonçalo do Amarante, conforme demonstrado no texto O Joio e o Trigo

Sabemos também que Ibitutinga teve parte numa efervecência da política local, reflexo da força dos fazendeiros atuantes na região. No final do século XIX fazia tenaz resistência ao então líder político municipal, Severiano de Resende. Na década de 1920 uma manchete do nº809 d'A Tribuna anuncia: "Politicalha truculenta: o sr. Viegas das Chagas regressando de Ibitutinga, lá deixou um rastro de sangue alheio." O discurso de oposição inflamou os ânimos locais chegando a haver tentativa de assassinato.

A política já foi agitada em Ibitutinga.
Ibitutinga é cortada pela rodovia federal BR-494. A atual ponte de travessia sobre o agitado Rio das Mortes data do ano 2000. Substituiu a antiga, estreita e perigosa ponte velha que jaz em abandono imediatamente a jusante. O rio neste área se caracteriza por um canal pedregoso, de águas agitadas, estreito, que imediatamente após a ponte se abre num poção fundo e largo. Outrora muito piscoso, ainda correm na memória popular narrativas de grandes pescarias, frutuosas nos piaus, piracanjubas, mandis, mulatas velhas, dourados e jaús, hoje, apenas mais uma lembrança.

Águas impetuosas do Rio das Mortes em Ibitutinga, ag.2013.

Referência Bibliográfica

- Passarelli, Ulisses. Pequena Cronologia Distrital. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei. n.12, 2007.
- Prontuário Geral das Estações Ferroviárias, 1945. 2.ed. Belo Horizonte: Dep. Est. de Estatística, 1947. 
Referência Hemerográfica

A Tribuna, São João del-Rei, n.787, 26/09/1926
A Tribuna, São João del-Rei, n.799, 07/11/1926
A Tribuna, São João del-Rei, n.809, 12/12/1926
A Tribuna, São João del-Rei, n.1.268, 07/04/1935
Diário do Comércio, São João del-Rei, n.133, 21/08/1938
O Correio, São João del-Rei, n.502, 23/05/1936

Notas e Créditos

* Texto, pesquisa e fotos: Ulisses Passarelli
** Fonte: acervo digital da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d' Almeida.

2 comentários:

  1. Em 1923, a Lei nº 843 de 07 de setembro de 1923, muda o nome do distrito de Santa Rita do Rio abaixo, para Ibitutinga, com isso as notícias que se lê nos jornais supracitados, não são de um povoado extinto próximo a localização da Estação do Trem, mas sim da hoje Ritápolis, antiga Santa Rita do Rio Abaixo e por um bre ve período ibitutinga.

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    1. O nome setecentista Santa Rita do Rio Abaixo permaneceu até a referida data de 1923 oficialmente. No portal do IBGE consta que o Decreto-lei 843, de 17/12/1938 trouxe de volta o nome original de Santa Rita do Rio Abaixo, que perdurou até a emancipação em 1962. Portanto peço licença para discordar em parte, porque vejo uma generalização... Ora, antes de 1923, as notícias são de fato do povoado de Ibitutinga e após 1938 também (consideradas as datas específicas das legislações mencionadas). No intervalo, sim ou não, a notícia pode ser do povoado ou do distrito que ficaram como homônimos. Mas como diferenciar com segurança? No mais, ao que tudo indica, o nome Ibitutinga para o distrito nunca foi popular, ou como se diz, "nunca pegou", tanto que durou pouco. Por isto destaco a palavra oficialmente, que se contrapõe a popularmente, que muitas vezes, por força do uso coloquial, tem muito mais peso. No mais, a estação de Ibitutinga foi forte centralizadora de atividade econômica local, que à época chamava para si a atenção, como se pode ver da leitura do Inventário de Patrimônio Cultural daquela edificação (IPAC/2014 - Secretaria de Cultura e Turismo de São João del-Rei).

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