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domingo, 3 de novembro de 2013

Finados

Finou-se Finados, mas não se findou no coração de quem ama. Mais uma vez os campos santos estiveram repletos de saudosos visitantes, em burburinho nos portões, na calçada fronteiriça, junto aos ambulantes que neste dia oferecem à venda velas e flores. 

Alguns fazem peregrinação, uma espécie de via-sacra, porque tem um parente num cemitério, um amigo noutro. No mais, a devoção às almas estimula as visitas. Uns cuidam de arrancar matos dos monturos de terra, outros mais de lustrar um pedra tumular. O cheiro de parafina queimando toma o ar, de mescla ao aroma das flores de monsenhor, crisântemo e cravo-defunto. Cruzes simplórias e esquecidas, ferrugentas, por ventura são lembradas neste dia. Assim como na terra dos vivos, também na dos mortos há construções abastadas, embora que o destino comum seja inevitável. Mas o carinho com os falecidos é uma premissa ética e religiosa, ensina a Bíblia Sagrada, através do Livro de Tobias. 

Dentre tantos túmulos, em São João del-Rei, merecem destaque o do ex-Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, que recebe uma grande quantidade de visitantes, inclusive de turistas e em especial uma sepultura que é a mais querida de todas, a da Jovem Desconhecida, no Cemitério Municipal ("Cemitério do Quicumbi"). 

Túmulo da Jovem Desconhecida em setembro de 1998.

O caso policial misterioso nunca foi elucidado. Uma mulher jovem foi encontrada no matagal em 1970 em estado de decomposição. Não foi identificada. O crime chocou a então pacata sociedade são-joanense. O povo lhe atribuiu o poder do milagre e logo condecorou o seu espírito com a fama de taumaturgo. A visitação ao túmulo, ora renovado, é muito grande e sobre ele sempre há flores, velas, pedidos e orações, manuscritas ou impressas. 

Créditos

- Texto e fotografia: Ulisses Passarelli. 

Notas

- Revisão: 26/05/2025. 

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