Na cidade de Coronel Xavier Chaves, o experiente capitão de
congado (catupé), José do Rosário Anacleto, carinhosamente conhecido por “Zé
Carreiro”, baluarte da cultura popular local, havia me informado pessoalmente,
em 1997, uma série de curiosas palavras, aparentemente estranhas e foi
traduzindo o seu significado.
Dizia-me que esse palavreado vinha de seus antepassados e nos tempos da escravidão era língua dos africanos, que conversavam entre si em modo dialetal, incompreensível aos brancos. Mesmo quando o regime da servidão havia acabado a tempos, algumas pessoas daquela cidade dos Campos das Vertentes conservaram estes fragmentos linguísticos banto.
Zé Carreiro, líder das manifestações folclóricas locais (congado, folia de Reis, calango, boi-de-caiado), puxando de sua excelente memória passou-me o seguinte glossário:
Dizia-me que esse palavreado vinha de seus antepassados e nos tempos da escravidão era língua dos africanos, que conversavam entre si em modo dialetal, incompreensível aos brancos. Mesmo quando o regime da servidão havia acabado a tempos, algumas pessoas daquela cidade dos Campos das Vertentes conservaram estes fragmentos linguísticos banto.
Zé Carreiro, líder das manifestações folclóricas locais (congado, folia de Reis, calango, boi-de-caiado), puxando de sua excelente memória passou-me o seguinte glossário:
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Zé Carreiro à frente de seu congado, num dia de Festa do Divino.
Foto: Cida Salles, 2011.
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Arufuno: lenha
Arunanga: roupa
Arussanjo: galinha
Camboá: cachorro
Catira: baile
Condoboro: galo
Curimba: roça
Curucuta: sapato
Cussacaná: casamento
Gadanho: dedo
Homenha: água
Ingorosa: cachaça
Marungo: olho
Môro: arroz
Mussanja: roupa
Mutanga: vara, manguara
Ngana jamba: igreja
Ngana: padre
Ocema: fubá
Papai cucuruto: forno
Tipoquê: feijão
Tuê: cabelo
Uíque: açúcar
Muitas outras palavras foram detectadas na região. Algumas se fixaram na toponímia (Candonga, Muxinga, Caxangá, Cassôco, Caxambu, Cassanje...), outras, ficaram restritas ao uso religioso (menga, cambono, marungo, obará...) ou ainda ao linguajar cotidiano (indaca, quizila, mandinga, fulo...).
Elas são elementos culturais muito importantes das tradições afro-brasileiras e enriquecedoras do nosso vocabulário. Outrora a mescla dessas palavras com o português coloquial era muito maior, gerando um modo próprio de falar, algo como um sotaque, misturando africanismos e corruptelas, criando o que se costuma chamar "português crioulo", expressão que nada tem a ver com discriminação. Pelo contrário, ela se firma em valores, indicando que foi nascido aqui no novo mundo, criação nossa. Da mesma sorte, no sul do Brasil existe uma referência de pecuária ao "gado crioulo", indicando brasilidade, identidade à nossa nação, criação brasileira.
Elas são elementos culturais muito importantes das tradições afro-brasileiras e enriquecedoras do nosso vocabulário. Outrora a mescla dessas palavras com o português coloquial era muito maior, gerando um modo próprio de falar, algo como um sotaque, misturando africanismos e corruptelas, criando o que se costuma chamar "português crioulo", expressão que nada tem a ver com discriminação. Pelo contrário, ela se firma em valores, indicando que foi nascido aqui no novo mundo, criação nossa. Da mesma sorte, no sul do Brasil existe uma referência de pecuária ao "gado crioulo", indicando brasilidade, identidade à nossa nação, criação brasileira.
Notas e Referências
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