Numa enorme
fazenda nos ermos do interior, uma pequena criança, filha do fazendeiro,
brincando no terreiro como de sempre, longe dos olhos tutelares, saiu andando sem rumo pelo mato e se perdeu. Na boca da noite [1]
não tinha voltado.
O
desespero se apossou dos pais. Saíram à sua procura, luzes à mão, junto com os
empregados da fazenda. Foram mata adentro, beira-córrego, nas grotas, brejos, cerrados.
Noite inteirinha... nada!
A
estrela d’alva já anunciava o novo dia, que se abriu em clarão. A busca
incessante parecia fracassada. Já sem esperanças, temerosos da criança ter sido atacada
por uma cobra ou onça, foram surpreendidos com a chegada da mesma sozinha, no
terreiro da fazenda.
Todos
em prantos foram a ela, abraçando-a intensamente. Era visível o seu cansaço. A
criança não soube dizer por onde esteve. Apenas afirmava que uma moça muito
bonita a trouxera em casa e que agora queria dormir.
Os
de casa se indagaram por muito tempo que moça seria aquela. Quem era a benfeitora?
Num
domingo foram à missa dominical na capela do povoado. A criança puxou insistentemente
o vestido da mãe, dizendo: “_ mãe, mãe...
Olha lá a moça que me trouxe em casa!”. A progenitora, cheia de ansiedade
para conhecer e agradecer à bendita mulher, ficou pálida e surpresa, tomada de
emoção, quando a criança, apontando para o altar, mostrou-lhe a imagem de Nossa
Senhora.
Nossa Senhora da Lapa, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,
São João del-Rei/MG.
Notas e Créditos
*Texto: Ulisses Passarelli
** Informante: Aluísio dos Santos, São João del-Rei/MG, jan.1994.
*** Fotografia: Murilo, Master Foto, 2004.
[1]
- Boca da noite: o crepúsculo. A expressão popular evoca uma imagem ancestral
da noite, como um gigante tenebroso, cheio de mistérios e perigos, que abocanha
o dia.
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