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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Criança Perdida

Numa enorme fazenda nos ermos do interior, uma pequena criança, filha do fazendeiro, brincando no terreiro como de sempre, longe dos olhos tutelares, saiu andando sem rumo pelo mato e se perdeu. Na boca da noite [1] não tinha voltado.

          O desespero se apossou dos pais. Saíram à sua procura, luzes à mão, junto com os empregados da fazenda. Foram mata adentro, beira-córrego, nas grotas, brejos, cerrados. Noite inteirinha... nada!

          A estrela d’alva já anunciava o novo dia, que se abriu em clarão. A busca incessante parecia fracassada. Já sem esperanças, temerosos da criança ter sido atacada por uma cobra ou onça, foram surpreendidos com a chegada da mesma sozinha, no terreiro da fazenda.

           Todos em prantos foram a ela, abraçando-a intensamente. Era visível o seu cansaço. A criança não soube dizer por onde esteve. Apenas afirmava que uma moça muito bonita a trouxera em casa e que agora queria dormir.

              Os de casa se indagaram por muito tempo que moça seria aquela. Quem era a benfeitora?

         Num domingo foram à missa dominical na capela do povoado. A criança puxou insistentemente o vestido da mãe, dizendo: “_ mãe, mãe... Olha lá a moça que me trouxe em casa!”. A progenitora, cheia de ansiedade para conhecer e agradecer à bendita mulher, ficou pálida e surpresa, tomada de emoção, quando a criança, apontando para o altar, mostrou-lhe a imagem de Nossa Senhora.

Nossa Senhora da Lapa, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,
 São João del-Rei/MG.


Notas e Créditos

*Texto: Ulisses Passarelli
** Informante: Aluísio dos Santos, São João del-Rei/MG, jan.1994.
*** Fotografia: Murilo, Master Foto, 2004.



[1] - Boca da noite: o crepúsculo. A expressão popular evoca uma imagem ancestral da noite, como um gigante tenebroso, cheio de mistérios e perigos, que abocanha o dia. 

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