O “Pavilhão do Bicentenário” (dito Pavilhão de Matosinhos, alcunhado Capitólio ou Castelo) foi construído em 1913 em imponente estilo mourisco, no local onde hoje se situa o SENAI, na Praça do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Foi feito em comemoração aos duzentos anos de elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à categoria de vila, com o nome de São João del-Rei. Objetivava sediar uma exposição permanente de nossa atividade industrial e comercial. As obras iniciaram comentando-se que [1]:
"No pittoresco arrabalde de Mattosinhos, começaram no dia 13 do andante, os trabalhos da Exposição, que a commissão central, composta dos srs. Carlos Guedes, Alberto Bastos e João Viegas, pretende apresentar aos nossos visitantes, por occasião do bi-centenário de S. João d’El-Rey." (Etc.)
O prédio tinha arquitetura arrojada para a época e trouxe dificuldades técnicas [2]: "os trabalhadores do pavilhão de Mattozinhos queixam-se da falta de um feitor ou mestre que conheça o serviço."
Na inauguração houve grande festa a 14 de julho, atraindo enorme multidão e é claro, os políticos influentes na época [3]:
"A esphera da cupola foi então collocada pelo snr. Dr. Augusto Pestana, Director da E. F. Oeste, o qual subiu ao andaime até o ponto elevado a 25 metros do solo, em companhia do membro da Commissão, snr. Carlos Guedes (...) No momento da collocação da esphera subiram as girandolas de foguetes e a musica do 51 de Caçadores, gentilmente cedida pelo seu distincto commandante, Coronel Dr. Eduardo Socrates, executou um bellissimo dobrado."
Discursaram: Sebastião Sette (pelo povo), Odilon de Andrade (prefeito), Dr. Pestana (diretor da estrada de ferro), Augusto Viegas (Vice-presidente da Câmara Municipal), Carlos Guedes (pela comissão encarregada da construção) e o Cel. Severiano de Rezende.
Pavilhão de Matosinhos. Foto: autor e data não identificados. |
Mas como nem tudo são maravilhas, houve críticas. A construção foi considerada por demais dispendiosa e no mais, houve atraso no seu cronograma, não tendo ficado pronta a tempo do bicentenário, só sendo inaugurada no ano seguinte.
O mais sério contudo é que a construção ficou ociosa, com eventual uso provisório e indigno por sinal, como, ocupada por bancas de jogos de azar nas festas do bairro.
Em 1923 passou por melhorias que empolgaram. Mas o plano geral não parece ter ido adiante [4]:
O mais sério contudo é que a construção ficou ociosa, com eventual uso provisório e indigno por sinal, como, ocupada por bancas de jogos de azar nas festas do bairro.
Em 1923 passou por melhorias que empolgaram. Mas o plano geral não parece ter ido adiante [4]:
"A nossa municipalidade levou a effeito os concertos necessarios no Pavilhão de Chagas Doria, onde foram fechadas todas as portas e limpas todas as suas dependencias. O grande predio apresenta agora garboso aspecto. Conforme já noticiamos, nele, dentre em breve, funccionarão, no pavimento superior, um laboratorio de analyses de terras e um mostruario de productos agricolas, servindo o rés do chão para deposito de machinas destinadas á lavoura, dependencias essas do Ministerio da Agricultura, ao qual será entregue, dentro em breve, aquelle palacio, que nos custou cento e vinte contos de réis, outróra abandonado e prestes a entrar em ruinas."
Ainda que em 1929 tenha sediado a escola Padre Sacramento, logo esta foi transferida para o Patronato. Passou a ser assim frequentada por mendigos, prostitutas, malandros, banqueiros de jogos. De acordo com informações bibliográficas era taxado de lugar propício à imoralidade e foi num ato de ignorância e ingerência demolido em 1938, a dinamite, segundo a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (a estrutura era muito sólida, fundada sobre trilhos da linha férrea) e durante a administração do prefeito Antônio Viegas, segundo Antônio Gaio Sobrinho.
Imoral não era o lugar, mas sim o seu mal emprego e o ato destrutivo. Houvera ter-se corrigido aquelas mazelas, frutos do descaso do poder administrativo para com um bem público, que propiciou o seu abandono e teríamos ainda hoje o valioso monumento.
Não é pois correto afirmar que o pavilhão foi demolido para ali se construir o SENAI, pois este só foi inaugurado bem mais tarde, em 13/10/1952. Se fossem coetâneos, esta conceituada escola técnica que se vê na foto abaixo poderia ter ocupado o vasto e sólido prédio do pavilhão, se ele então ainda existisse...
Ainda que em 1929 tenha sediado a escola Padre Sacramento, logo esta foi transferida para o Patronato. Passou a ser assim frequentada por mendigos, prostitutas, malandros, banqueiros de jogos. De acordo com informações bibliográficas era taxado de lugar propício à imoralidade e foi num ato de ignorância e ingerência demolido em 1938, a dinamite, segundo a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (a estrutura era muito sólida, fundada sobre trilhos da linha férrea) e durante a administração do prefeito Antônio Viegas, segundo Antônio Gaio Sobrinho.
Imoral não era o lugar, mas sim o seu mal emprego e o ato destrutivo. Houvera ter-se corrigido aquelas mazelas, frutos do descaso do poder administrativo para com um bem público, que propiciou o seu abandono e teríamos ainda hoje o valioso monumento.
Não é pois correto afirmar que o pavilhão foi demolido para ali se construir o SENAI, pois este só foi inaugurado bem mais tarde, em 13/10/1952. Se fossem coetâneos, esta conceituada escola técnica que se vê na foto abaixo poderia ter ocupado o vasto e sólido prédio do pavilhão, se ele então ainda existisse...
Vista hodierna do local onde no passado se situou o pavilhão. Foto: Ulisses Passarelli, 12/01/2014. |
Referências Bibliográficas
GAIO SOBRINHO, Antônio. Sanjoanidades: um passeio histórico e turístico por São João del-Rei. São João del-Rei: A Voz do Lenheiro, 1996. 104p.il. p.12-14.
PAVILHÃO de Matosinhos. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.1, 1973. p.3.
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
[1]- A Evolução, n. 6, 19/09/1913.
[2]- A Evolução, n. 23, 15/03/1914.
[3]- Reforma, n. 16, 18/07/1914.
[4]- A Tribuna, n. 471, 06/05/1923.
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