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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Devoção a São Cristóvão em São João del-Rei


Cristóvão é o santo protetor dos motoristas, festejado a 25 de julho.

Teria vivido na Síria, ao tempo do imperador romano Décio. Pouco se sabe a respeito de sua história, que assume ar lendário. Seu nome verdadeiro seria Óforo, um guerreiro imbatível, de proporções agigantadas e grande força física. Serviu a um rei e se orgulhava do poderio de seu senhor, até que se decepcionou ao vê-lo persignar-se ao ouvir a palavra diabo. Como poderia sua majestade ter medo do tal? Então o maligno seria mais poderoso...?  Assim procurou o demônio e passou a servi-lo com maldades. Também teve decepção ao ver um dia o capeta tremer de medo diante de uma pequena cruz de madeira e indagou-lhe a razão. Respondeu-lhe satanás que temia não a cruz mas aquele que nela morrera e ali estava simbolizado. Obcecado em servir a um senhor cada vez mais forte e que nada temesse, procurou se informar sobre Cristo. Um monge lhe disse que o Messias tudo vencia pelo amor e bondade e que para segui-lo seria necessário servir ao próximo. Sugeriu-lhe ajudar as pessoas na travessia de um rio impetuoso que por lá havia. E assim foi cumprir. Certa noite um menino pequeno chegou-se a ele e pediu ajuda para atravessar as águas. Não haveria dificuldade. O hercúleo Óforo carregou-o facilmente aos ombros. Ocorre que o menino foi pesando de forma insuportável e ao chegar à outra margem, já o homem tão forte não tolerava o peso do pequenino e caiu de joelhos. “Como pode um menino pesar tanto?”, indagou Óforo. O menino se transfigurou luminoso em homem, revelando-se como o Salvador e disse-lhe: “Eu sou Jesus a quem serves e o meu peso corresponde aos pecados da humanidade que estou carregando. Doravante você se chamará ‘Cristóvão’, ou seja, ‘o que leva Cristo’.” E desapareceu [1].

Sua festa tem como ponto alto a bênção dada aos motoristas. Bênção aliás especialmente bem-vinda nesse tempo de violência no trânsito [2].

Em São João del-Rei / MG há uma capela de que é orago, na antiga “Rua do Barro” (atual Coronel Tamarindo), datada de 1969, sendo na ocasião presidente o sr. João Carlos Tavares da Silva, vice, Tácito Moura, secretário, Ranulfo José Ferreira e tesoureiro, Sebastião Batista de Carvalho [3].

Outro ponto de sua devoção na cidade é a Igreja de São Gonçalo Garcia, onde existe uma grande imagem desse santo.

A festa foi iniciada no bairro de Matosinhos em 1977, segundo se diz, costume trazido da Igreja de São Gonçalo Garcia. Contudo a festa prosseguiu também naquela igreja, como prova esta nota do ano seguinte [4]: “realiza-se no próximo dia 23, domingo, às 16 horas, na Igreja de São Gonçalo Garcia, missa em homenagem ao patrono dos motoristas, São Cristóvão. Após a missa será realizada a procissão.”         

Procissão de São Cristóvão na Avenida Sete de Setembro em Matosinhos.
            
Os responsáveis iniciais por essa festa em Matosinhos faleceram, exceto o sr. Gilberto de Sousa, grande incentivador do evento. Também foi destacado festeiro o sr. Salim Eustáquio, dentre outros. A festa mantém as características iniciais, contudo não há mais barraquinhas, nem a missa sobre uma carreta, estacionada num posto de combustíveis da BR-265. Nesse local existe a imagem de São Cristóvão, entronizada numa gruta artificial de pedras. Era usada na festa. Em 1990 passou a se adotar nova imagem, em madeira, confeccionada pelo artista sacro Osni Paiva. A imagem segue em procissão após a missa, num andor em forma de carroceria de caminhão, montado sobre um reboque. A procissão motorizada conta com muitos carros de passeio, motocicletas, caminhonetes, peruas, caminhões – todos tocando buzina – pelas ruas principais da cidade. Um caminhão, à guisa de abre-alas, segundo observação de julho de 2005, seguiu na dianteira, com uma cruz branca, de madeira, armada em pé na carroceria, ladeada da bandeira do Brasil por um lado e a da diocese por outro. Na saída há foguetório e toques festivos de sinos. Os devotos se amontoam sobre as carrocerias. Na esfuziante chegada ocorre a bênção das chaves dos veículos e coletam-se donativos.

Sua devoção é crescente em São João del-Rei, quiçá movida pelo aumento da violência no trânsito. Em 2004 surgiram três festas novas: uma no ponto final dos ônibus do Bairro Tijuco, onde nem mesmo há igreja católica; outra no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e uma terceira também em área distrital, com procissão motorizada da Igreja de São Francisco de Assis (Emboabas) até a do Sagrado Coração de Jesus (Cananéia).

Veja mais a respeito em:
A Procissão Motorizada de 2013
Procissão de São Cristóvão, São João del-Rei




[1]  - STARLING, Nair. Nossas lendas. 4.ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1954.
[2] - Sobre sua festa, que ocorre em várias cidades, ver: SILVA, Antônio Clemêncio. Procissão de São Cristóvão. Anuário do 34º Festival do Folclore, 9-16 ag. / 1998.
[3] - Jornal de Minas, n.6, 22-29/05/1969.
[4] - Tribuna Sanjoanense, n.224, 21/07/1978.

* Texto e fotografia (04/08/2013): Ulisses Passarelli

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