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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ditados - parte 5

Ajoelhou, tem que rezar – começou uma ação, tem que concluí-la.

Antes só que mal acompanhado – a estar em companhia de pessoas desonestas, de má índole, violentas, é melhor permanecer solitário.

Boca fechada não entra mosquito – não se deve falar demais pois acaba se dizendo o que não é necessário e causa embaraço.

Boca que não merece beijo, pimenta nela! – pessoa que só fala asneiras, ofensas, xingamentos, é logo execrada.

Cada macaco em seu galho – cada pessoa deve se ater ao assunto de seu domínio; cada um deve se conservar nos limites de seu trabalho, sem se preocupar com o dos outros.

Cada um sabe de si; Deus, de todos – cada indivíduo deve cuidar exclusivamente de seus problemas, anseios e afazeres, sem se preocupar com a vida do outro.

Cão que ladra não morde – pessoa que ameaça demais não cumpre aquilo que ameaçou.

Dado, até injeção na testa – sendo de gratuito, tudo é válido.  Variante: “... injeção na veia”.

Dar com uma mão e tirar com a outra – oferecer uma coisa e tomar outra; trazer um benefício e um prejuízo, simultaneamente.

Deixa eu cuidar da vida que a morte é certa – dito de incentivo à pró-atividade; cuidar das coisas necessárias ao cotidiano sem perder tempo com o supérfluo.

Desculpa de peidorreiro é barriga inchada – sempre existe uma culpa atribuída a algo, quando de fato depende-se da ação da pessoa.

Em festa de jacu, inhambu não entra – entre poderosos, ricos, o desfavorecido não tem oportunidade.

Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas – onde o perigo é muito grande, até quem tem proteção se cuida mais.

Farinha pouca... meu pilão primeiro! – quando os recursos são minguados, primeiro se olha para as próprias necessidades, depois para as necessidades alheias.

Gato escaldado não cai no pote de água fria – quem já caiu numa cilada, de qualquer  embuste tem medo.  Variante: “... tem medo de água fria”.

Levar a fama sem deitar na cama – levar uma fama ruim sendo inocente. É um ditado contrário a outro: “Fez a fama, deita na cama” , ou, “... chora  na cama, que é lugar quente”.

Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga – não se deve preocupar excessivamente com o futuro. Deve-se trabalhar e confiar na graça de Deus.

Não se quebra a perna de um burro por ele dar coice – não se pune apenas por uma má resposta ou rispidez.

O lobo perde o pelo, mas não perde o vício – o homem maduro dá sinais de perda da vitalidade mas não perde a libido.

O maior cego é aquele que não quer ver – diz-se da pessoa que teima em não admitir uma verdade que está às claras, visível por todos.

O melhor da festa é esperar por ela – a ansiedade gerada pela espera de uma acontecimento, acaba sendo mais satisfatória que o próprio evento em si, por vezes, decepcionante.

O olho do dono é que engorda o gado – o responsável por um negócio deve acompanhar de perto a evolução do mesmo, o que garante seu êxito. Variante:  “... engorda o cavalo”.

Papagaio come milho, periquito leva a fama – uma pessoa faz o ato, outra leva a culpa.

Para agradar ao santo se beija as pedras – para se alcançar um objetivo, muitas vezes é necessário tomar atitudes indesejadas.

Para quem é, bacalhau basta! – para quem não tem elegância, fineza, polimento, qualquer coisa serve.

Para quem sabe ler um pingo é letra – para quem tem perspicácia, qualquer sinal indica ou prenuncia o que ainda não foi revelado.

Pau que nasce torto morre torto – o defeito da personalidade não tem correção.

Princípio de cantiga é assobio – o início dos acontecimentos é prenunciado por pequenos fatos.

Quem nasceu para ter pena é galinha – diz-se do sentimento de ter dó dos outros, ter pena, desestimulando-o.

Quem avisa amigo é – quem alerta o outro de algum perigo ou problema que sinaliza proximidade é verdadeiramente um amigo.

Quem cala consente – quem é acusado de algo e não se defende está admitindo a culpa.

Quem casa quer casa – quem ingressa num matrimônio deseja ter sua individualidade, a própria residência, sem coabitar com outras pessoas que não apenas o cônjuge.

Quem conta um conto aumenta um ponto – a estória ou o fato, cada vez que é recontado, vem acrescido de novos elementos.

Quem corre atrás de muito fica sem nenhum – provérbio contrário à ganância, estimulando a não ser usurário.

Quem deve a Deus paga a Deus; quem deve ao diabo, paga ao diabo – quem deve paga de qualquer jeito, mas paga a quem deve: se a dívida é com o lado do bem, pagará aos bons, não aos maus; mas sempre pagará. É um provérbio que contraria o seguinte desta listagem e em geral é dito entre pessoas de formação espiritualista. De alguma forma ele vai reiterar o ditado “Fuja de dever, quer pagar é certo...”, que assegura que de qualquer forma uma punição virá. Estes provérbios referem-se a uma dívida moral, espiritual, por uma atitude indevida. Não é dívida monetária.

Quem deve a Deus, paga ao diabo – erros de conduta, as contas serão cobradas pelo maligno.

Quem gosta de bucho é panela de pressão – ditado comparativo: “bucho” é termo usado com referência à pessoa indesejada, mal quista; “bucho” de fato é o termo popular para designar o estômago da vaca, usado como alimento, cozido, matéria-prima do prato “dobradinha”. O sentido alegórico indica que a pessoa não tolera pessoa intratável (“bucho”).

Quem gosta de casamento é padre e fotógrafo – referência às dificuldades e dissabores de uma vida matrimonial. O provérbio é zombeteiro, referindo-se que quem gosta de casamento é quem ganha dinheiro com ele.

Quem já foi rei nunca perde a majestade – quem teve um cargo importante, uma vez saído dele, permanece com a empáfia que sustentava enquanto empossado no mesmo.

Quem morre por gosto, regalo da vida – referência às pessoas que se habituaram a queixar-se de tudo, a lamentar da sorte, a prenunciar sua própria doença e morte, sem reagir ou tomar atitude. No geral se refere às pessoas que exacerbam pequenos problemas para aparentar ao outro grande sofrimento.

Quem não arrisca não petisca – quem não tenta, aposta, arrisca, não terá chance de alcançar resultados.

Quem nasceu para ter coleira é cachorro – provérbio que renega a submissão, afirmando com convicção a condição de independência e liberdade.

Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza – quem não experimentou um prazer da vida, quando o prova, insiste nele até ao exagero.

Quem quebra galho é macaco gordo – a expressão “quebrar galho” significa fazer favores, prestar benesses. O ditado, em forma de analogia, renega esta atitude, estimulando que cada um resolva seus próprios problemas.

Quem tem filho barbudo é gato – sentido: que tem de cuidar de pessoa já adulta, barbado, é a própria pessoa, não outrem. Ditado contrário ao abuso de quem sem agir, conta com a ajuda alheia.

Quem tem quem por si chora, todo dia morre – quem vive lamentando e encontra quem consola, não deixa de lamentar; vicia na prática do queixume.

Quem vê cara não vê coração – quem observa apenas a aparência não capta a essência da pessoa, seu caráter, a personalidade, os valores humanos.

Sua cabeça é seu guia – cada um faz o que quer; o que deve fazer, orientado pela própria consciência ou desorientado pela falta dela.

Todo pé torto tem seu chinelo velho para calçar – a pessoa por mais desprovida de atributos que seja _ sempre encontrará alguém que possa agradar dela e fazer par. Um ditado equivalente é: “Toda panela velha tem sua tampa”.

Um boi solto lambe-se todo – a pessoa que vivia sem liberdade, quando a alcança, perde-se inebriado pela sensação da liberdade.

Um burro carregado de livro não é doutor – uma pessoa com muito estudo, mas sem polimento no trato com o próximo não é digno da intelectualidade adquirida. “Burro” se diz de quem tem pouca inteligência ou estudo, ou no sentido exato deste provérbio, “burro” é o indivíduo grosseiro, deselegante, que trata o próximo com rispidez. “Coiceiro”.

Um pai cuida de dez filhos, dez filhos não cuida de um pai – quando o progenitor precisa de atenção e ajuda, os filhos não fazem pelo pai o sacrifício correspondente que o pai fez por eles. Uma variante substitui a palavra “cuida” por “trata”. Esta expressão consta de uma famosa e educativa e emblemática canção da música caipira, “Moda do Couro de Boi”.

Um tatu cheira o outro – as pessoas se aproximam para convívio por afinidade de comportamento.

Uns agradam dos olhos, outros da remela – tem pessoas que aparentam se prender aos defeitos explícitos que o companheiro apresenta, renegando outras pessoas quem excedem em qualidades. “Remela” é termo popular para a secreção que se junta no ângulo interno dos olhos.


Notas e Créditos


*Texto: Ulisses Passarelli

6 comentários:

  1. Muito bom o resgate destes ditados, sabedoria popular.
    Conheço de outra forma a expressão: "Farinha pouca... meu pirão primeiro."

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  2. eu conheço "um gambá cheira o outro"
    essa do tatu nunca ouvi falar.

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  3. Conheço outra... em rio de piranha macaco toma água de canudinho

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  4. O quê que dizer quem convida dá banquete?

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  5. Reconheci alguns, aprendi muitos! Ótimo!

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