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quarta-feira, 26 de março de 2014

Rosmaninho

Nesse tempo quaresmal e de Semana Santa, um odor campestre exala dos templos católicos desta região: é o rosmaninho, ou como diz o povo, rosmanim.

É um velho costume, sobretudo da Semana Santa, esparramar no assoalho das igrejas, por todo o tabuado, folhas desta planta, que aromatizam o ambiente, contribuindo para a atmosfera reflexiva que este ciclo religioso reclama para si. Os altares laterais e os passinhos também ganham seus ramos, e aparecem outrossim em grutas religiosas. 

Alguns devotos, por sua vez, esparramam as folhas em casa, acreditando numa bênção especial para a residência. Pode-se com a mesma intenção guardar para enfeitar oratórios, pondo-os em jarras, que aromatizam os lares.

Outros mais, nos terreiros de religiões de matriz africana, igualmente o fazem na área de cerimônias, sendo considerado uma erva de Oxalá, orixá que o sincretismo sintoniza com Jesus. Tanto mais, uma vez secos, são queimados e a fumaça funciona como se fosse um incenso. Alguns umbandistas e candomblecistas usam o rosmaninho para banhos de energização.

Florada do rosmaninho 
(Hyptis carpinifolia, lamiaceae)
Para o homem do campo,
sua presença denuncia terras férteis. 
A tradição manda colhê-lo na madrugada da Quinta-feira de Trevas (quinta-feira da Semana Santa), antes do sol sair, quando seus ramos estão molhados pelo orvalho, tido por sagrado nesse dia. Dizia-me uma senhora, eivada de profunda fé, que o orvalho nesse dia representa o suor e as lágrimas de Cristo. Desfolha-se antes do meio-dia (12 horas, "hora aberta"...), sobre o chão já previamente varrido e deixa-se ali até o romper da Aleluia, no Sábado Santo. Durante esse período é interditada a varrição. 

Na frente das igrejas na Sexta-feira da Paixão, em São João del-Rei, não faltam os vendedores de ervas, populares que ofertam molhos de rosmaninho, arnica, manjericão, alecrim e outras plantas aromáticas ou medicinais, como as congonhas. Credita-se a elas um alto poder curativo se trazidas para casa nesse dia. Daí o povo da zona rural sair de madrugada ou bem cedo na manhã para os campos, subir morros e adentrar vales à caça de folhas e raízes medicinais, formando em casa um pequeno estoque ou farmácia caseira capaz de, ao longo do ano, suprir necessidades medicamentosas. Ao término da tarefa é costume se recolher a família a um lanche modesto à guisa de pique-nique, ou na reza de um terço, para só depois voltar à morada. 

O valor místico dessa erva é tal na concepção popular, que diz um ditado nessa região: “quem passar pelo rosmaninho e não cheirar, para o céu não irá” ou "(...) Jesus não salvará" ou ainda,"quem passou pelo rosmaninho e não cheirou, da Paixão de Jesus Cristo não se lembrou". 


Notas e créditos

* Texto e fotografia (2002): Ulisses Passarelli

8 comentários:

  1. voc^e sabe me dizer qual a especie desta planta? ou outro nome popular...obrigado

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    1. Infelizmente não consegui identificá-la. E por aqui é muito popular e todos a chamam apenas rosmaninho. Desconheço sinônimos. Agradeço a visita.

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    2. Rosmaninho
      (Hyptis carpinifolia, lamiaceae)

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    3. Eu sei que é da Família das hortelãs...(acho que isso)

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  2. Bom dia, sabem dizer se existe mudas dessa planta para vender?

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  3. Essa é uma Lippia Rotundifolia, o nome popular até pode estar certo mas o científico passou longe! Abraço

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  4. Será que posso fazer o extrato glicerinado dela?

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